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A preto e branco: O lado errado da história

Nas dicotomias maniqueístas com que se foi escrevendo a narrativa ocidental (a única que conhecemos), Portugal esteve sempre do lado certo do mundo.

Elsa Rodrigues, professora elsardrgs@gmail.com

Nas dicotomias maniqueístas com que se foi escrevendo a narrativa ocidental (a única que conhecemos), Portugal esteve sempre do lado certo do mundo.
Nem sempre o lado moralmente correto, mas o lado dos fortes, dos vencedores, dos que produzem os acontecimentos e os interpretam. Dos que narram a história. Do ocidente, norte ou oeste, coordenadas geopolíticas a partir das quais se mapeou o mundo. O lado de cá do império. O lado da civilização, do progresso, da cultura, da ciência. Da democracia, da igualdade, da tolerância, dos direitos. O lado da narrativa dominante que, por isso, é sempre o lado do bem, da luz, do esclarecimento. Mas o mundo mudou. As coordenadas deslocam-se. Novas potências emergem. Novos mapas se impõem. Novas formas de imperialismo. Novos donos do mundo. Poucos serão os portugueses, ou até os europeus, que hoje se sentem do lado certo da história. São os outros, os não ocidentais, aqueles que durante séculos foram dominados, que assumem agora o protagonismo. A acreditar em Hegel, esse é o movimento natural do mundo. Os impérios nascem e morrem para dar lugar a outros, num movimento dialético que faz cumprir a história em direção ao seu fim. Sendo difícil aceitar um plano prévio ou fim para a história, resta-nos confiar que ela não tem fim e que, seja qual for a nossa posição, estaremos cá para assistir ao seu curso.

(texto publicado a 7 de dezembro de 2012)