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Crónica irregular: Vade retro facebook!

Diz-nos a 1ª lei da tecnologia de Kranzberg, que ela não é boa nem má, nem neutra, o que sublinha a natureza odontológica do seu uso.

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Pedro Melo Biscaia, diretor da Escola Secundária Afonso Lopes Vieira pedromelobiscaia2@sapo.pt

Diz-nos a 1ª lei da tecnologia de Kranzberg, que ela não é boa nem má, nem neutra, o que sublinha a natureza odontológica do seu uso. Este é, todavia, um debate com profundas raízes históricas. Há até uma peça clássica grega onde os protagonistas debatem a vantagem ou desvantagem da escrita para a fixação da memória, sabendo nós que o alfabeto foi a maior invenção tecnológica da história, que alterou a naturalidade do comportamento e registo humanos. Mais tarde o catolicismo condenou o uso da imprensa de Gutenberg, temendo que a massificação no acesso aos “textos sagrados” dispensasse os intermediários da interpretação divina. Conhece-se a grande animosidade do atual fundamentalismo islâmico em relação às novas tecnologias, considerando-as veículos de corrupção das consciências. Vem isto a propósito do anúncio do Ministério da Educação de bloquear o acesso às redes sociais nas escolas. Ora, sendo verdade que o acesso indiscriminado pode causar perturbação na atividade letiva, dada a profusão de aplicações que o permitem, não creio que seja pela interdição radical do facebook, que o problema se resolverá. A escola pública espelha a complexidade social, com­petindo-lhe percecionar e enquadrar cívica e pedagogicamente a realidade. Negar a evidência é perda de energia e de tempo!

(texto publicado na edição de 10 de abril de 2014)