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Tempo incerto: Uma mudança necessária

A democracia necessita de reconciliar os cidadãos com a política e a vida pública.

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José Vitorino Guerra

A democracia necessita de reconciliar os cidadãos com a política e a vida pública.

A manter-se a actual situação, é previsível a deterioração contínua das instituições, a degradação da acção governativa e a perda de legitimidade política pelo afastamento dos cidadãos dos actos eleitorais ou pelo aparecimento de forças alimentadas pela crescente desilusão em relação ao regime democrático.

No cerne do problema encontram-se as leis eleitorais e, sobretudo, a prática político-parti­dária, demasiado carregada de vícios para que muitos duvidem da sua capacidade de regeneração.

Nos últimos anos, os partidos esvaziaram-se ideologicamente, fulanizaram-se e transformaram-se, a nível local, em entidades ausentes, que apenas despertam quando está em causa a conquista do poder.

A escolha dos candidatos ou os assuntos mais problemáticos são decididos em pequenos grupos, cozinhados por pressões de interesse egoísta e centros de poder informal, que raramente aparecem a dar a cara. Daqui resulta que o debate político está inquinado à partida e refém da manipulação por grupos de pressão internos ou ligados a centros de poder exteriores ao próprio partido. Nestas situações, é difícil resistir ao clientelismo, aos “favores” ou assumir uma acção fiscalizadora da prática partidária.

Os partidos do “arco da governação” foram acumulando esqueletos de todos os feitios nos armários, estabelecendo ligações perigosas e perdendo a capacidade crítica necessária para analisarem a acção dos seus governos, bem como as consequências. No geral, cultiva-se a demagogia, o unanimismo, a amnésia e o silêncio.

Por outro lado, tem-se consolidado o carreirismo militante de quem se alimenta do partido, por medíocre que seja, e nunca conheceu outro tipo de realidade que não fosse a dos pequenos truques com que se arregimentam facções e se aprende a andar na corrente de esteira do chefe para se ter emprego e futuro. Em consequência, a qualidade do pessoal político têm-se vindo a degradar.

Os partidos são fundamentais à democracia, mas talvez não fizessem mal em dar um sinal de mudança das suas práticas internas para procurarem reconquistar a confiança dos cidadãos e fortalecer o regime.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 19 de junho de 2014)