A democracia necessita de reconciliar os cidadãos com a política e a vida pública.
A manter-se a actual situação, é previsível a deterioração contínua das instituições, a degradação da acção governativa e a perda de legitimidade política pelo afastamento dos cidadãos dos actos eleitorais ou pelo aparecimento de forças alimentadas pela crescente desilusão em relação ao regime democrático.
No cerne do problema encontram-se as leis eleitorais e, sobretudo, a prática político-partidária, demasiado carregada de vícios para que muitos duvidem da sua capacidade de regeneração.
Nos últimos anos, os partidos esvaziaram-se ideologicamente, fulanizaram-se e transformaram-se, a nível local, em entidades ausentes, que apenas despertam quando está em causa a conquista do poder.
A escolha dos candidatos ou os assuntos mais problemáticos são decididos em pequenos grupos, cozinhados por pressões de interesse egoísta e centros de poder informal, que raramente aparecem a dar a cara. Daqui resulta que o debate político está inquinado à partida e refém da manipulação por grupos de pressão internos ou ligados a centros de poder exteriores ao próprio partido. Nestas situações, é difícil resistir ao clientelismo, aos “favores” ou assumir uma acção fiscalizadora da prática partidária.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Os partidos do “arco da governação” foram acumulando esqueletos de todos os feitios nos armários, estabelecendo ligações perigosas e perdendo a capacidade crítica necessária para analisarem a acção dos seus governos, bem como as consequências. No geral, cultiva-se a demagogia, o unanimismo, a amnésia e o silêncio.
Por outro lado, tem-se consolidado o carreirismo militante de quem se alimenta do partido, por medíocre que seja, e nunca conheceu outro tipo de realidade que não fosse a dos pequenos truques com que se arregimentam facções e se aprende a andar na corrente de esteira do chefe para se ter emprego e futuro. Em consequência, a qualidade do pessoal político têm-se vindo a degradar.
Os partidos são fundamentais à democracia, mas talvez não fizessem mal em dar um sinal de mudança das suas práticas internas para procurarem reconquistar a confiança dos cidadãos e fortalecer o regime.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(texto publicado na edição de 19 de junho de 2014)