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Escrevivendo: Com língua de palmo

Ao que consta, no próximo dia 23 em Díli, a Guiné Equatorial passará a ser o nono país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

António Gordo, professor (ap.)antoniogordo@gmail.com
António Gordo, professor (ap.) antoniogordo@gmail.com

Ao que consta, no próximo dia 23 em Díli, a Guiné Equatorial passará a ser o nono país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Portugal baseou sempre a sua oposição, isolada mas correta, na violação de dois requisitos estatutários: os direitos humanos (a Guiné vive num regime ditatorial, com graves atropelos aos direitos humanos, incluindo pena de morte); e, naturalmente, o não ter o português como língua oficial. Coisas de pouca monta, afinal, quando as perspetivas económicas tornam mais apetecível a pertença a uma comunidade que poderá vir a produzir tanto petróleo quanto hoje é assegurado pelo Médio Oriente.

Que aconteceu para que Portugal calasse a consciência e retirasse o veto? Muito simples: a Guiné suspendeu a pena de morte (dias depois de quatro execuções!) e declarou o português língua oficial, a par do castelhano e do francês. Formalmente, tudo resolvido. Mesmo que ninguém fale o português (e poucos o francês ou mesmo o castelhano). Interessa economicamente? Então, estatutos, língua e direitos humanos não são problema. Sinal dos tempos. Podiam, ao menos, mudar o nome à confraria. No mínimo, para qualquer coisa tipo “CPLP, S.A”. Ou “CPLP & Friends”.

Grande sapo! Só que, desta vez, é a língua que não deixa engolir, pelo menos para quem alimenta o coração de coisas bonitas, como “a língua é o lugar donde se vê o mundo” ou “a minha pátria é a língua portuguesa”.

(texto publicado na edição de 17 de julho de 2014)