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Crónica irregular: Um lugar ao sol

Perguntava eu a um menino se ele gostava de ir à escola “Mais ou menos” respondeu, eu insisti “como assim?” Ele ripostou “Sem escola, não tenho férias.”

Sofia Lisboa, artistasofialisboa.lra@gmail.com
Sofia Lisboa, artista sofialisboa.lra@gmail.com

Perguntava eu a um menino se ele gostava de ir à escola “Mais ou menos” respondeu, eu insisti “como assim?” Ele ripostou “Sem escola, não tenho férias.” Tenho refletido sobre estas palavras. Inicialmente, considerei que esta criança não gostava da escola, mas se calhar, a verdade surge transparente da boca das crianças.

Isto a propósito do verão e da inevitável pergunta “Sofia, as tuas férias?” A resposta é complexa. Como posso apreciar as férias, se não estou a trabalhar? E, de repente, aquelas palavrinhas adquiriram um novo significado: é o trabalho que dá sentido às férias.

Na ausência de trabalho, todo o tempo é livre, demasiado livre. Os horários, as tarefas, os compromissos… Todas essas obrigações acarretam sacrifícios, mas também nos permitem ter um propósito, fazer projetos, pensar…O ócio, sem o negócio, não é mais do que a inércia.

Por isso, quando vejo semblantes de enfado, pela obrigação de trabalhar, no verão, penso “é o trabalho que vos permite ter o prazer das férias, são aqueles que não trabalham por motivos de saúde, ou pelo flagelo do desemprego, que estão verdadeiramente excluídos da vida.”

Quando referimos um “lugar ao sol” pensamos num bom futuro profissional. Na verdade, todos ansiamos por um trabalho que nos proporcione as merecidas férias!

(texto publicado na edição de 28 de agosto de 2014)