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Passageiro do tempo: In memoriam Manuela Santos

Foi um ano de calvário que não conseguiu vencer. Todos quisemos acreditar que o desfecho seria diferente mas desde há meses que as notícias anunciavam o pior.

José Manuel Silva, professor/Gestor do ensino superiorjmsilva.leiria@gmail.com
José Manuel Silva, professor/Gestor do ensino superior jmsilva.leiria@gmail.com

A morte faz parte da vida, é um facto banal, nasce-se, vive-se e morre-se, com a naturalidade inerente a todos os seres vivos, mas sendo um destino desde sempre traçado é um momento particular, pois ninguém pode morrer no nosso lugar nem ninguém nos resgata deste fim. Crentes, agnósticos, ateus, todos se sentem irmanados num caminho sem retorno, embora para uns seja o fim da linha e para outros o princípio de algo que não se conhece mas que tanto pode corresponder a um paraíso imaginado como lugar de sagração ou a um inferno penalizador.

Recuemos a 2001, ano em que aceitei fazer o papel de candidato do PS à Câmara de Leiria e convidei Manuela Santos para integrar a lista na segunda posição. Lembro-me bem do almoço, num restaurante dos Parceiros, onde lhe expus as linhas gerais do programa que tencionava apresentar e do espanto com que recebeu o convite. Nunca tinha tido atividade política e sentia-se, naturalmente, receosa de se envolver num processo que era novo para ela e para o qual não se sentia completamente preparada.

Sublinhe-se que as condições em que a convidei mais aconselhavam a que não aceitasse, todos sabíamos que não íamos ganhar as eleições e o que nos esperava, no máximo, seria assegurar uma derrota honrosa e quatro anos de mandato desgastantes na oposição. Ponderou um pouco e disse-me que acreditava em mim e no projeto e que isso era suficiente para que se decidisse favoravelmente, o resto não interessava.

Por mim, tinha toda a confiança que ia ser uma aposta ganha, trazia-se para a política mais uma mulher com formação, capacidades várias, prestigiada profissionalmente, simpatia e à vontade na vida social, de que a ação coletiva tanto necessita, e isso era o mais importante. Desde então a Manela deixou o seu cunho no que foi fazendo nunca mais tendo abandonado a participação na vida cívica e sendo traiçoeiramente apanhada pela doença pouco depois de ser eleita para a atual Assembleia Municipal, onde passou a integrar a respetiva mesa.

Foi um ano de calvário que não conseguiu vencer. Todos quisemos acreditar que o desfecho seria diferente mas desde há meses que as notícias anunciavam o pior. A Manela ainda tinha muito para dar à sua família, à advocacia, a Leiria e ao País, mas a dureza da realidade impõe-se às nossas vontades. Obrigado, Manuela Santos, pela tua amizade, colaboração, exemplo e dedicação à causa pública, descansa em paz.

(texto publicado na edição de 11 de setembro de 2014)