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Passageiro do tempo: O flagelo do desemprego jovem

Quem trabalha com jovens estudantes sabe que um dos principais problemas a resolver é incutir-lhes atitudes profissionais, valores básicos indispensáveis para os preparar para um posto de trabalho.

José Manuel Silva, professor/Gestor do ensino superior jmsilva.leiria@gmail.com

Um dos mais graves problemas sociais existentes no espaço da União Europeia é o desemprego da população jovem. Parece inacreditável mas a dura realidade é que com a exceção do Médio Oriente e de uma boa parte da África, somos o espaço territorial onde mais jovens se encontram desempregados e maior é o número dos jovens que não estudam nem trabalham.

Longe vai a utopia dos anos sessenta quando o pleno emprego era dado como uma meta realista mas, infelizmente, fruto dos acontecimentos incontroláveis que o desenvolvimento das sociedades vai gerando mas também muito por incúria de quem tinha obrigação de olhar para o futuro com mais cautela e capacidade de previsão, todos os países da União Europeia estão confrontados com problemas idênticos, as respetivas economias não conseguem gerar um número suficiente de empregos para abrir perspetivas profissionais a todos os jovens.

A situação em Portugal é conhecida, 38% dos jovens estão desempregados, 14% não estudam nem trabalham, mais de 50% não acreditam que os estudos secundários contribuam para aumentar as expectativas de virem a ter emprego e 30% das vagas disponibilizadas pelos empresários não são ocupadas por ausência de candidatos com as aptidões necessárias.

Há aqui matéria abundante para reflexão e, sobretudo, para agir rápido e direto ao objetivo. É fundamental adequar melhor a formação às necessidades do mundo do trabalho e melhorar a informação sobre o potencial dos estudos como passaporte para o emprego. Mas há outra coisa muito importante, quem trabalha com jovens estudantes sabe que um dos principais problemas a resolver é incutir-lhes atitudes profissionais, valores básicos indispensáveis para os preparar para virem a obter um posto de trabalho, competências pessoais, comunicacionais e sociais que, para além das técnico-práticas, são fundamentais para conseguirem inserir-se na vida ativa.

O período de formação, goste-se ou não, é uma corrida de fundo em que só conseguem alcançar o objetivo os que acreditarem que para isso têm de verter muito “sangue, suor e lágrimas”, “comer o pó do caminho”, fazer sacrifícios de toda a ordem e tomarem o mundo como o seu local de trabalho. Se lhes mentirmos e fingirmos que este é um tempo de “tá-se bem” somos coniventes numa fraude, vendemos-lhes cursos que não lhes servirão para nada.

(texto publicado na edição de 9 de outubro de 2014)