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Saúde

Precisamos ou não de dormir a sesta?

Especialistas e defensores da sesta reuniram-se em Ansião para debater o tema e concluir pelos benefícios de 15 a 20 minutos de repouso a seguir ao almoço.

Crianças a partir dos 3 anos devem ou não dormir a sesta? A questão foi levantada durante a 4.ª Conferência Nacional da Sesta que decorreu, no final de setembro, em Ansião, por iniciativa da APAS – Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta.

“Continua a ser bastante polémica e atual e não tem sido resolvida”, referiu a psicóloga clínica Vanda Clemente. A análise de vários estudos permitiu a esta profissional do Centro Hospitalar de Universitário de Coimbra concluir que nem todas as crianças em idade pré-escolar devem ser privadas da oportunidade de fazer uma sesta, “particularmente as mais novas ou as que dormem menos de 10 horas durante a noite”.

A verdade, porém, é que nem todos os jardins-de-infância, em particular os públicos, dispõem de condições para as crianças dormirem a sesta e nem todos os pais consideram que esta seja benéfica para os filhos.

Saúde mental agradece

Vanda Clemente apresentou ainda dados referentes aos hábitos de sono nas crianças e adolescentes portugueses.

Alertou para o facto de “11,6% das crianças em Portugal em idade escolar dormir menos de sete horas” e para a evidência, suportada em vários estudos, de que “os pais subestimam o número de acordares noturnos e o tempo que os filhos estão acordados durante a noite”, ou seja, sabem dizer a que horas os filhos se deitam e levantam, mas não sabem quantas horas dormem.

Os benefícios da sesta foram igualmente evocados por João Claudino Junceiro, da Escola Superior de Saúde de Portalegre. Não há dúvidas: “a sesta aumenta capacidades ao nível do desempenho físico e mental, mas o seu maior significado revela-se ao nível da saúde mental”. Por outras palavras: “a sesta aumenta o sentimento de felicidade e a saúde mental agradece”.

João Claudino muniu-se de um estudo desenvolvido pela NASA junto dos pilotos, segundo o qual “os que fazem sesta são 35% mais atentos do que aqueles que não a fazem”. Socorreu-se ainda da investigação conduzida por Sara Medrick, professora do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, sobre as vantagens de 15 a 20 minutos diários de sesta.

De acordo com a investigadora os benefícios vão desde a perda de peso, à redução do risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca, além de melhorar o humor e os níveis de energia, aumentar a capacidade de aprender coisas novas e de recordar essas aprendizagens, eliminar a necessidade de cafeína e álcool, aliviar enxaquecas e melhorar o sono noturno.

A 4.ª Conferência Nacional da Sesta levou ainda a Ansião o biólogo Augusto Abade que falou sobre “Sesta e Evolução”, o médico Nuno Campos que abordou o tema “Sesta e Desporto”, o economista Manuel Barreiro, cuja intervenção incidiu sobre “Sesta e Produtividade”, e o professor Raul Cordeiro, da Escola Superior de Saúde de Portalegre, que versou o tema “Privação do Sono e Proteção Civil”.

No próximo ano a conferência nacional da sesta pode dar lugar a congresso ibérico. Isso mesmo adiantou Prates Miguel, presidente da direção da APAS, podendo Campo Maior vir a receber a primeira edição.

 

 

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Prates Miguel

Prates Miguel, presidente da direção da APAS: A sesta não é coisa de preguiçosos

Os 240 associados da APAS – Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta são sobretudo homens. As mulheres têm pouco tempo para a sesta?
Não sei. Embora tenha subido um bocadinho, a percentagem não ultrapassa os 30%.

Ao longo destes 11 anos de atividade, que conquistas fez a associação?
Pelo menos conseguimos inverter a mentalidade de muita gente acerca da sesta. A sesta era motivo de chacota e de desprezo. As pessoas viam com mais olhos a sesta porque consideravam que quem praticava a sesta era preguiçoso e que a sesta não tinha valor para perder-se tempo com isso, era uma coisa de preguiçosos. Essa mentalidade vem-se alterando. Com este tipo de eventos, em que vêm pessoas falar dos benefícios da sesta, pessoas qualificadas para o efeito, tem-se alterado a mentalidade.

Continuam a lutar por mudanças na legislação laboral no sentido de instituir a sesta?
No início, ainda pugnávamos por essa utopia. Atualmente, abandonámos a crença de que a sesta venha a ter contemplação legislativa. Nem isso é muito importante. O que é importante é haver consensos dentro das empresas, entre empregadores e empregados, para quem desejar fazer a sesta.

PD

(Notícia publicada na edição de 2 de outubro de 2014)

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