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Passageiro do tempo: Pós verdades e factos alternativos

O caso Trump é apenas a face visível de um iceberg que tem desvalorizado a credibilidade de algum jornalismo e contribuído para criar uma opinião publicada cada vez mais afastada da opinião pública

José Manuel Silva Professor/gestor do ensino superior jmsilva.leiria@gmail.com
José Manuel Silva
Professor/gestor do ensino superior
jmsilva.leiria@gmail.com


As duas expressões do título entraram no nosso léxico como contributos da trumpização da comunicação social e da avassaladora campanha dos media, cada vez mais órgãos de opinião e menos de notícias. Goste-se ou não do novo inquilino da casa Branca, o que a maior parte de nós desejava era que os jornalistas nos disponibilizassem, e para isso pagamos, informação atualizada, sopesada entre fontes e que nos ajudasse a construir uma imagem menos desfocada sobre a realidade que permitiu a eleição do mais improvável presidente.
Pelo contrário, a informação parece estar a transformar-se na opinião que cada jornalista tem sobre um assunto e, naturalmente, muito do que se escreve resulta da aculturação às lógicas do pensamento dominante das escolas de comunicação onde cada um estudou. O caso Trump é apenas a face visível de um iceberg que tem desvalorizado a credibilidade de algum jornalismo e contribuído para criar uma opinião publicada cada vez mais afastada da opinião pública e sobretudo equivocada quanto ao que verdadeiramente são as correntes de opinião da população que não se sente representada por essas vozes, nem partilha das suas opiniões alegadamente progressistas, socialmente avançadas e inquestionáveis como força ideológica avançada de novas sociedades.
Trump é retratado como um génio do mal, que faz das “pós verdades” e dos “factos alternativos” a sua cruzada insensata. Talvez seja, mas convém sermos mais prudentes e darmos-lhe o crédito que merece quem foi eleito presidente de uma nação global. As contas fazem-se no fim.

(Texto publicado na edição de 02 de fevereiro de 2017)