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O meu diário: Petições

Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com
Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com

O poder da sociedade civil fora dos períodos eleitorais é um forte indicador da maturidade de um povo.

Só nas democracias consolidadas a voz da população é respeitada. Gosto de ver pais a exigir melhores condições para os seus filhos nas escolas, moradores a lutar por acessos melhores nos seus bairros, populações a obrigar governos a falar sobre centrais nucleares, ou gente a fazer campanha por ações ou obras dos orçamentos participativos das autarquias.
Neste rol de incomensuráveis ações de que me orgulho cabem as petições, pelo que quase sempre assino aquelas de que sou francamente a favor. Há delas que não tenho opinião formada ou porque não tenho conhecimentos técnicos que cheguem ou porque não consigo equacionar as várias visões e pontos de vista de um problema. Porém quando se fazem petições por tudo e por nada já chateia.
Fui rever no meu e-mail as petições que me enviaram para assinar nestes últimos dois meses: 34. O que dá mais do que uma petição para assinar em dias alternados. Relacionadas com o Trump umas 8, ora pra o intimidar, ora para lhe tirar o código de acesso às armas nucleares e até para mudar de penteado . Não, não assinei todas que eu não ligo muito às aparências. Das outras, desde abrir a BA5 à aviação civil, salvar o tigre da Malásia, acabar com o casamento infantil, salvar o Papahânaumokuâkea (seja lá o que isso for), acabar com o uso do sangue das éguas prenhas, discutir o CETA na Assembleia da República (mais um assunto que domino completamente), impedir construção de um hotel na Ilha do Pico, regular o peso das mochilas das crianças quando vão para a escola etc. etc. A maioria das causas são nobres, mas para assinar tenho de ler qualquer coisa sobre o assunto e entre comer, dormir e trabalhar não faria outra coisa senão assinar petições.
Agora que me interessei por esta matéria encontrei uma petição para acabar com as petições. Descansem que não assinei, mas cerca de 10% de mim puxava-me para essa decisão.
Para vossa informação, nas petições dirigidas à Assembleia da República, que tiverem mais de mil assinaturas, terão de ser ouvidos os seus subscritores na Comissão Parlamentar respetiva, e com mais de 4 mil poderão ou terão mesmo que ser discutidas em plenário. Comecem a pedir aumento de ordenado que eu assino por vós, caso se comprometam a assinar a minha. Vamos a este pequeno exercício de cidadania?

(Texto publicado na edição de 09 de fevereiro de 2017)