Assinar

O meu diário: Gafe

A propósito da gafe nos Óscares lembrei-me de mim própria que nasci com esta sina de ser recordista em gafes. E logo eu, que estimo a diplomacia e aprecio o politicamente correto. O lema de não magoar e não causar dano é-me muito próximo e aprecio a discrição e o saber estar.

A propósito da gafe nos Óscares lembrei-me de mim própria que nasci com esta sina de ser recordista em gafes. E logo eu, que estimo a diplomacia e aprecio o politicamente correto. O lema de não magoar e não causar dano é-me muito próximo e aprecio a discrição e o saber estar.

Há uns anos saltei durante dois minutos porque me tinha saído o prémio do euromilhões. Ao fim de gritar e dar saltos percebi que aquele papel não era o da chave que tinha apostado mas sim da chave do próprio euro milhões. Eu fui o La La Land, nesse dia. Tanta alegria e um balde água fria. Para além da desilusão que me assolou de seguida, tenho que aturar os meus filhos até aos dias de hoje a imitar-me, histérica e aos saltos a dizer ganhei, ganhei. A asneira deu-se, mas a principal vítima fui eu. Também vistas as coisas a esta distância percebi qual é a sensação de ser totalista do Euromilhões. E é entusiasmante, confesso!

Em matéria de gafes eu conto muitas. Pergunto pelo marido ou pela mulher quando se separaram e se o pai morreu é logo a primeira pessoa que me interessa para saber como está.

Noutro dia fiz conversa com uma senhora acerca do companheiro que deixou de a acompanhar às consultas e tive que me confrontar com a novidade que tinha sido preso. Quem acreditaria que um senhor tão distinto estaria preso.

Mas a melhor sou eu dizer a uma colega que achava outro colega com um comportamento comigo estranho e pouco assertivo ao que ela respondeu lacónica e com evasivas nada ao estilo dela. Nessa mesma tarde fiquei a saber que o colega em questão era tão só o ex-marido da colega.

Se o doente for invisual pergunto logo qual a cor das fezes e até a um doente com uma prótese num membro inferior disse para entrar no novo ano com o pé direito. Elogiar os inimigos das pessoas com quem estou a privar é para mim corriqueiro e já quase não catalogo como gafe. Se o doente é polícia digo mal da classe porque fui multada sem culpa, etc etc.

O que me vale é que quase ninguém me leva a mal ou pelo menos mostram uma certa condescendência com estes episódios. O que conta é a intenção e essa é quase sempre reta.

(Texto publicado na edição de 02 de março de 2017)