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Cultura

Diretor-geral do Património Cultural garante que sítio arqueológico do Lapedo “não está em risco”

Arqueóloga responsável pelo sítio criticou “inoperância e desleixo” da Direção-Geral do Património Cultural e denunciou derrocada em dezembro de 2022. O diretor-geral do Património Cultural disse esta segunda-feira, dia 13, que o problema está ainda em estudo.

Foi hoje assinado um protocolo para a criação de um programa de interpretação e comunicação para o vale do Lapedo Joaquim Dâmaso

O sítio arqueológico do Abrigo do Lagar Velho, no Lapedo, em Leiria, onde em 1998 foi encontrado o esqueleto do “Menino do Lapedo”, “não está em risco”, garantiu o diretor-geral do Património Cultural, contrariando uma das arqueólogas responsáveis pela escavações.

Em Leiria, na assinatura do protocolo para criação de um programa de interpretação e comunicação para o vale do Lapedo, João Carlos dos Santos, confirmou que, em dezembro de 2022, “houve uma parte da escarpa que caiu”, estando a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) “a monitorizar” e “a aguardar”.

“Neste momento, não há uma conclusão absoluta sobre o que aconteceu. Estamos a aguardar”, disse o diretor-geral do Património Cultural, garantindo que o sítio arqueológico, situado na União das Freguesias de Santa Eufémia e Boa Vista, “não está em risco”.

O destacamento é “um episódio muito recente”, que se seguiu a um episódio de vandalismo no sítio identificado no início de 2022.

“Houve um período muito grande de seca e houve contração dos terrenos. Isso pode ter contribuído para que tenha ocorrido esta falha, esta fissura”.

Segundo o responsável da DGPC, já houve intervenção, decorrendo a monitorização. “Escorámos, dentro do que é possível numa escarpa que pesa toneladas”, avançou.

João Carlos dos Santos disse ser ainda uma incógnita a intervenção futura no Abrigo do Lagar Velho, porque “pode ser prejudicial para a própria descoberta e para os próprios vestígios arqueológicos”.

“Pode ser pior fazer intervenção. Numa analogia com a medicina, o tratamento pode ser prejudicial ao próprio doente. Temos de avaliar, com calma, o que se pode fazer. Numa escarpa é difícil atuar”.

O sítio arqueológico continuará fechado, confirmou o diretor da DGPC, tal como lamentou hoje a arqueóloga Ana Cristina Araújo, em artigo assinado no jornal “Público”.

A técnica da DGPC, corresponsável pelas escavações no Lapedo nos últimos anos, denunciou que “o portão do Abrigo do Lagar Velho fechou-se ao público por total inoperância e desleixo da DGPC”.

A arqueóloga apontou o dedo “à quase indiferença da DGPC” ao que tem acontecido ao sítio do Lapedo, aguardando “há mais de quatro anos” resposta aos “inúmeros pedidos de intervenção para salvaguardar o património precioso que se encontrava ali em iminente risco de destruição”.

“Enquanto o sítio se ia degradando por falta de atenção e ausência de resposta da DGPC, esta entretinha-se, durante um ano, a escrever um protocolo”, hoje assinado no Museu de Leiria, para interpretação e comunicação do sítio, “à revelia dos seus responsáveis científicos, esquecendo as mais elementares regras que gerem a ética profissional, a boa educação e o respeito pelo outro”, acrescentou, no artigo no jornal diário.

No mesmo texto, Ana Cristina Araújo considerou o projeto hoje apresentado para o “Menino do Lapedo” “uma fraude, uma hipocrisia, uma farsa impossível de ocultar”.

O ministro da Cultura, presente na cerimónia, minimizou as críticas.

“Essa arqueóloga em particular é funcionária da DGPC e há aqui duas décadas de trabalho com várias pessoas”, reagiu Pedro Adão e Silva, preferindo destacar o projeto em criação, coordenado pelo diretor do Museu Nacional de Arqueologia, António Carvalho, numa equipa com o arqueólogo João Zilhão, o escritor Gonçalo Cadilhe e a arquiteta paisagista Aurora Carapinha, que vão desenhar uma proposta até ao final de abril.

“Tão importante como conhecer – e há aqui décadas de investigação e de conhecimento – é dar a conhecer esta realidade do ‘Menino do Lapedo’ e o significado que ela tem para nós hoje. O que é extraordinário, porque permite contar uma história da forma como nós éramos como humanos há milhares e milhares de anos”, afirmou o ministro.

A resposta às críticas a arqueóloga da DGPC veio do presidente da Câmara de Leiria.

“É natural que haja sempre quem ache que o caminho devia ser outro. Nos dias de hoje é muito normal, porque por tudo se cria conflitos. Vivemos neste combate completo. Vamos trilhar este caminho e no final será avaliado e criticado. É perfeitamente extemporâneo criticar uma coisa que nem sequer começou”, respondeu Gonçalo Lopes, anunciando que o município pondera a aquisição de terrenos de interesse arqueológico no vale do Lapedo, hoje na posse de privados.

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