O ponto e o todo
Receitas milagrosas contra a crise
José Manuel Silva
Professor do ensino superior
jmsilva.leiria@gmail.com
Tenho o pressentimento de que esta crónica se vai tornar no oposto do politicamente correto ou do academicamente sustentado. E digo que se trata de um pressentimento por não ser ainda claro para que lado vai descambar o texto.
Sim, ao contrário do que muitos pensam, é o texto que manda em nós. Sentado frente ao branco da folha virtual, matraqueio o teclado, primeiro à procura da melhor ideia, depois indeciso perante a profusão de hipóteses, uma catástrofe ou um atentado terrorista são sempre boas opções. Mas a Presidenta Dilma Roussef está ali piscando o olho, uma presidenta é sempre um tema atual.
Não confundir com presidente, uma mulher presidente é uma snobeira, como uma juiz, uma juíza é que é popular. Basta de hermafroditas. Bom, mas o Porto perdeu, também é assunto interessante, e a águia Vitória que já não voa, ou o leão do Sporting que quer abandonar o emblema, tudo temas que me escaldam os dedos quando martelo cada tecla com a fúria de quem vê o tempo a passar e a “dívida soberana” a aumentar.
Gosto da expressão “dívida soberana”, dá estatuto a qualquer país pelintra que põe no prego as suas joias de família. “Dívida pública” é uma coisa rasca.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Quem é que quer comprar “dívida pública”? Soberana enobrece. Apesar do republicanismo impenitente dos portugueses, “dívida soberana” evoca-nos a monarquia e confronta-nos com os nossos atavismos ancestrais – pouca produção, miséria quanto baste, dívida à farta.
Bem me parecia que não me escapava da crise. Qual crise, dirão os gurus da inovação. Não tarda acusam-me de pessimista.
Já me vejo a fazer um curso breve do tipo “Tudo o que precisa saber para se tornar milionário, mas que nunca ousou perguntar”. O melhor é banir a palavra do dicionário, decretar o seu fim, usar o ideograma chinês que associa problema a oportunidade.
Quem não sabe que uma crise é sempre uma oportunidade? Ainda há por aí maus portugueses a falar de crise? Que saudades da Inquisição.
Aquele camarada que perdeu o emprego e passa horas na fila da Segurança Social devia pensar em inovar, tornar-se empreendedor. Isto aprende-se em qualquer escola.
Diz que não sabe como alimentar a família? Há cursos muito chiques em que ensinam imensos truques para fazer omeletas sem ovos. E empregos só não tem quem não quer, com alguma imaginação tudo se consegue.
Olhem para o futuro com confiança, deixem-se de lamúrias, onde há um português, há uma solução. Se não puderem comprar um Ferrari contentem-se com um Bentley.
Nelson cravo disse:
Sempre considerei o português um povo desenrascado. Por isso estou para ver como se vai desenrascar da crise que os ricos criaram. que inventem qualquer coisa, mas despachem-se, porque o tempo está cada vez a ficar mais curto.