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Opinião: Um presidente, uma maioria, um governo

Passadas quase quatro décadas de democracia, cumpre-se um dos objetivos estratégicos de Sá Carneiro, que ele reputava como indispensável para fazer avançar o país, de forma sustentada, na direção que considerava mais necessária.

O ponto e o todo

Um presidente, uma maioria, um governo

José Manuel Silva
Professor do ensino superior
jmsilva.leiria@gmail.com

Passado o defeso eleitoral, que a direção do RL entendeu justificar-se para evitar qualquer contaminação entre opinião e militância partidária, volto para continuar a tarefa interrompida.

Como não podia deixar de ser, as eleições justificam uma análise e um comentário. Passadas quase quatro décadas de democracia, cumpre-se um dos objetivos estratégicos de Sá Carneiro, que ele reputava como indispensável para fazer avançar o país, de forma sustentada, na direção que considerava mais necessária.

Com um Presidente oriundo do PSD, uma maioria PSD-CDS/PP, e um governo emanado dessa maioria, o país vira à direita e ficam asseguradas as condições constitucionais e formais para que um projeto ideologicamente diferente do que tem sido a realidade em Portugal, se torne possível.

É certo que tudo isto ocorre num contexto de crise profunda e quando o país está sob tutela de instâncias internacionais que definiram para Portugal um programa de “governo” a que o Governo se terá de submeter.

A liberdade deste é muito estreita e a tarefa que tem pela frente, dificílima. Por um lado, a Troika atenta e vigilante para que as metas que definiu sejam cumpridas, sob pena de se fecharem os canais financeiros que tão indispensáveis nos são. Por outro, a “rua”, isto é, a força dos sindicatos e descontentes, que as inevitáveis medidas duras da governação obrigarão a manifestar-se e a lutarem contra o que considerarem ser atentados aos seus direitos e necessidades.

Passos Coelho e o seu governo vão necessitar não apenas do suporte político formal que resulta da maioria de deputados na Assembleia da República, mas do talento necessário para negociarem com todos os setores da sociedade portuguesa, à esquerda e à direita, com patrões e sindicatos, com corporações profissionais, com pensionistas, desempregados e beneficiários dos programas sociais financiados pelo Estado.

Uma das competências que o novo Governo deve possuir é a capacidade de ouvir e não se deixar cair na tentação de que é omnisciente e que tem a verdade absoluta que lhe permite resolver todos os problemas nacionais.

Os eleitores não falam apenas nas urnas, falam todos os dias, nas urnas apenas decidem. É por não os ouvir que se perdem as eleições, que se perde o contacto com o país real, que se confunde a realidade com a imagem desfocada que os bajuladores de serviço constroem para agradar ao líder.

A história portuguesa está recheada de momentos graves, de dissensões políticas profundas, de apertos financeiros insuportáveis, de momentos de descrença nacional e até de perda da soberania. Mas os portugueses sempre souberam reagir, transformar as adversidades em desafios, fazer das fraquezas forças, unir-se e seguir em frente. É o que vamos fazer, mais uma vez, custe o que custar.