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Ansiolítico urbano: Lugar imaterial

A existir, seria: espaço aberto, luminoso, com bom chão, paredes almofadadas, superfícies desenháveis, saco de boxe, trampolim e espreguiçadeira. Assim o imagino.

Ana Bonifácio, arquitecta urbanista. ab@anabonifacio.com

A existir, seria: espaço aberto, luminoso, com bom chão, paredes almofadadas, superfícies desenháveis, saco de boxe, trampolim e espreguiçadeira. Assim o imagino.

Uma espécie de “ateliê-divã” para onde se pudessem “transportar” bons e maus bocados de cidades, excertos de espaços urbanos e experiências perfeitas ou catastróficas; cidades feitas, reais, ou por fazer, ideais. Um lugar para contemplar e desejar territórios, ou mesmo, estropiá-los, repensá-los e, certamente, mandar vir com quem os quis e fez.

Haveria ainda lugar para tratar das miopias urbanas e olhar em frente, com amplitude e boa definição, transformando os “estropiadinhos-territoriais” em lugares de futuro para os que ainda hão-de vir.

Ao fim de uns anos a fazer vida da vida e das cidades dos outros, em Leiria ou em Argel – a escutar ou pressentir os anseios de quem as usa, de quem as paga e as decide e, ainda, a recriá-las sem consenso –, ansiolíticos precisam-se!

Temos este!: “Ansiolítico urbano” ou espaço público sem matéria nem chão mas com 1360 caracteres para esbracejar com entusiasmo sobre a “coisa urbana”. Sim, “temos”, pois espero companhia (ver endereço de e-mail acima para interacção ansiosa) de quem padece de maleitas ou pruridos, de visões ilusórias, deslumbramentos, convicções ou, tão-só, de quem pensa, cria, faz ou usa o território; seja cidade ou seja lugar nenhum.

(texto publicado na edição em papel de 4 de Novembro de 2011)