Assinar

Margem esquerda: Escolas ricas, escolas pobres

A auditoria à empresa Parque Escolar revelou o que já todos sabíamos: os gastos com a renovação das escolas públicas têm sido desproporcionados.

Adérito Araújo, professor universitário aderito.araujo@gmail.com

A auditoria à empresa Parque Escolar revelou o que já todos sabíamos: os gastos com a renovação das escolas públicas têm sido desproporcionados. Segundo a OCDE, citada no relatório, foram construídas “escolas desnecessariamente grandes, impondo custos adicionais de energia e limpeza”, recorrendo a “soluções de custo excessivo”.

As obras públicas devem apostar na qualidade da construção, permitindo aos edifícios envelhecer com dignidade e poupando em manutenção. Mas isso não justifica o uso de pedra natural nas casas de banho ou iluminação decorativa caríssima. Visitei recentemente a ES Rodrigues Lobo e pude perceber que, a par da qualidade da obra, foram cometidos erros de palmatória na funcionalidade do edifício que poderiam ter sido evitados se os gabinetes de arquitetura se preocupassem menos em receber prémios internacionais e mais em escutar a comunidade escolar.

Apesar dos erros, a renovação do parque escolar deve ser uma prioridade absoluta. Se há investimento público que vale a pena, tanto a nível económico como social, é nas escolas. E se agora temos alguns edifícios escolares dignos, em muitos outros – como na ES Afonso Lopes Vieira – subsistem problemas graves. Parar o investimento irá cavar o fosso entre escolas ricas, com professores e alunos motivados, e escolas pobres, com todos aqueles que, por falta de opção ou inércia, se deixam ficar.

(texto publicado na edição em papel de 16 de março de 2012)