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Pensamentos avulsos: Trinta euros menos um

“Um familiar que faleceu deixou-lhe alguma coisa a que dá muito valor”. Esta é uma frase que pode ouvir de um mentalista/médium e que se aplica a muitas pessoas, afinal todos temos familiares que já faleceram.

Cláudio Tereso, técnico de informática claudio@claudiotereso.com

“Um familiar que faleceu deixou-lhe alguma coisa a que dá muito valor”. Esta é uma frase que pode ouvir de um mentalista/médium e que se aplica a muitas pessoas, afinal todos temos familiares que já faleceram.

Se a isso juntarmos o facto de quem recorre a um mentalista estar potencialmente fragilizado e agarrado a recordações do falecido, há uma probabilidade muito forte de a afirmação estar certa. No caso de estar errada, pode-se sempre dizer “ainda não está na sua posse, mas vai estar” ou “é uma memória, não um objecto”.

Estas e outras técnicas formam o que é conhecido por leitura a frio, um sistema usado pelos mentalistas para fazer afirmações vagas que o cliente vai interpretar como certeiras. Este sistema aproveita as muitas falhas do nosso cérebro, como por exemplo a memória selectiva (esquecermos o que não nos interessa) que juntamente com a tendência de confirmação (darmos mais credibilidade à informação em que acreditamos) fará com que o cliente esqueça os erros do mentalista. No fim, jurará a pés juntos que “ele disse que a minha tia Gertrudes me deixou aquele relógio que uso sempre”.

Não passam de truques de circo, mas nas mãos de vigaristas têm o condão de esvaziar carteiras, como é o caso dos “trinta euros menos um” que a TVI, o canal do tele-lixo, e duas … pessoas querem subtrair a quem quiser ser enganado ao vivo em Leiria.

(texto publicado na edição em papel de 24 de fevereiro de 2012)