Da última passagem por Argel ficou-me, em jeito de “ansiedade urbana”, uma reflexão sobre cidades e as suas mulheres.
Argel, cidade capital do país – sustentáculo físico de uma sociedade que traz na pele a dicotomia entre a vontade de se projetar ao futuro versus o desejo de revitalizar os valores e a tradição (com a mulher no centro desta dicotomia) – tem no âmago do seu hipercentro grandes eixos urbanos com nomes de mulheres. Foram jovens heroínas de uma revolução feita por milhões de pessoas. Entre outras, ali estão a Boulevard Malika Gaïd e a Rue Hassiba Ben Bouali.
E por cá? Quantas mulheres dão nome a grandes espaços públicos?
Em Lisboa, por exemplo, apenas 3% da toponímia atual homenageia o feminino e, entre 148 avenidas, apenas seis têm nome de mulher.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Escolhi algumas e procurei. Excluindo a N. S. de Fátima (que arrecada uma fatia importante na toponímia nacional) entre a Florbela, a Maria de Lurdes, a Sophia, a Catarina, a Natália, a Amélia, a Amália e a Lúcia, a “campeã” é, talvez, a mais difícil de reconhecer da lista. Está em 30 concelhos e é nomeada 51 vezes entre ruas, largos, travessas, bairros e becos. Consegue ainda a proeza de se ler em duas avenidas e uma praça. É Catarina Eufémia.
Já não basta estudar e ser-se (mesmo) boa. Porque cada vez há mais mulheres. Notáveis e boas.
Afinal, é sempre preciso uma revolução. Quero dizer: uma “Revolução”.
(texto publicado na edição em papel de 20 de abril de 2012)