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Economia: felicidade ou prazer?

A “Felicidade” não pertence ao conjunto das sensações físicas (corpo) nem emocionais (mente). É um sentimento. E os sentimentos não são do corpo ou da mente, são do espírito. São sublimes e sagrados por natureza. Pertencem ao mundo incorpóreo e imaterial. Ao mundo da Consciência.

Tiago Carvalho, bancário

A “Felicidade” não pertence ao conjunto das sensações físicas (corpo) nem emocionais (mente). É um sentimento. E os sentimentos não são do corpo ou da mente, são do espírito. São sublimes e sagrados por natureza. Pertencem ao mundo incorpóreo e imaterial. Ao mundo da Consciência.

Conhecemos tanto a “Felicidade” como conhecemos o “Amor”, a “Justiça”, a “Liberdade” ou o “Belo”. Ou seja, não os conhecemos de facto. Nunca os vimos no seu estado absoluto e verdadeiro. Temos a consciência que existem. E temos consciência da necessidade da sua busca. Esta é a nossa condição enquanto seres humanos. É o que nos distingue dos animais.

Como não conseguimos viver de uma outra forma fabricamos então ideias genéricas e provisórias para esses conceitos. Ideias que evoluem com o tempo. É com base nessas ideias transitórias que decidimos organizar a sociedade (contextos jurídicos, políticos, económicos, culturais, etc.). Impomos assim uns aos outros, de uma forma individual e/ou coletiva (estados, empresas, partidos políticos, etc.), a nossa visão destes conceitos precários assumindo-os exteriormente como definitivos e verdadeiros. Criam-se assim os atritos (conflitos, guerras, etc.) mas também os afetos.

A economia também faz parte deste processo. A tentativa de transformar a economia numa ciência exata através da utilização excessiva da matemática levou a que, por razões de ordem filosófica e operacional, se adotasse o utilitarismo como a principal doutrina a seguir: agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (ou prazer).

Esta tem sido a moral adotada e que nos tem doutrinado. Contudo é uma moral que nos impõe uma fórmula: Bem-Estar = Prazer = “Felicidade”. É assim que temos construído a sociedade. Com uma fachada moral com telhados de vidro, que confundindo “Prazer” com “Felicidade” sujeita os homens à sua condição de animal. Os mais fortes a dominarem os mais fracos. Uma moral pobre que cria “dor” e crises de identidade.

Acredito no ser humano, e por saber que os conceitos são transitórios, acredito que haverá o dia em que a economia adotará conceitos mais espiritualistas e menos materiais para “bem-estar”. Para isso é necessário compreender que “Felicidade” é um estado do Ser que não depende de uma ação, e que a “Dor” (que sentimos também em Portugal) não é uma ausência da “Felicidade” mas um processo de crescimento e evolução – um despertar.

(Texto publicado na edição de 24 de agosto de 212)