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O meu diário: Economia

A medicina é uma ciência e esta coisa da economia mais parece design, muitas soluções para o mesmo espaço dependentes de como acordam ou veem o universo.

Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com

Quanto mais tempo passa desta crise, mais acho que a economia não pode ser apelidada de ciência. Se sentar à mesa 10 economistas, 10 têm opiniões diferentes acerca da saída para o problema.

Sair do euro para alguns sim, para outros jamais, aumentar impostos sim e não, reduzir a despesa pública e blá-blá-blá. Não se entendem, não se ouvem sequer. Quando um tipo tem febre e petéquias e sinais meníngeos é para todos os médicos uma meningite meningocócica e trata-se da mesma forma aqui, em Boston, em Pequim ou em Oslo. Existe a via verde do AVC e as regras aplicam-se em todo o lado. A gente entende-se porque fala a mesma linguagem, lê os mesmos livros e tem a mesma forma de atuar. A medicina é uma ciência e esta coisa da economia mais parece design, muitas soluções para o mesmo espaço dependentes de como acordam ou veem o universo. A flutuação dos mercados é mais surf. Muita inspiração e também muita asneira. Os mercados, os mercados, a sua evolução e a sua resposta. Estou cansada dos mercados, porque me dá ideia que são eles que ditam como vai ser a minha vida, e não os conheço de parte nenhuma, nem os elegi para coisa nenhuma. Mais digo, já que as manifestações estão outra vez na ordem do dia, abaixo os mercados (o que quer que isso seja). Mantenham as feiras e as praças que devem chegar.

Lá em casa tenho dois economistas: um que está a tirar o curso e o outro que é uma espécie de treinador de bancada. Não é, mas percebe tanto como os que são, o que já me pareceu menos provável porque dada a disparidade de opiniões que andam por aí, porque não aceitar a do senhor meu marido. Ambos me tentam explicar os fenómenos da economia e tenho-me esforçado para entender mas reconheço que não dá. Só me lembro dos jogos de cartas na faculdade quando jogávamos king. Muita manha e muita estratégia. E já reparei que nenhum deles nutre nenhum ódio pelos mercados como se fosse uma coisa como o tempo, não podemos evitar, temos de nos adaptar. Encolhem os ombros e acham-me uma utópica quando me insurjo contra os mercados.

O melhor conselho veio de um doente agora há pouco tempo. Doutora tire o dinheiro daqui, ponha-o na Suíça. Expliquei que era pouco não dava para isso. O meu sobrinho trabalha lá num banco e pode ajudá-la. Ele diz que é seguro que a maior parte dos jogadores de futebol e deputados põe lá o dinheiro. Seguríssimo sem sombra de dúvidas.

(texto publicado a 28 de setembro de 2012)