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Ansiolítico urbano: Ela, amanhã

Ela é organismo cuja pele se desenha a cicatrizes, feridas por fechar, tatuagens coletivas, sociais, culturais, materiais; É repositório dinâmico de camadas de tempo que se justapõem; É corpo e palco do quotidiano inteiro.

Ana Bonifácio, arquiteta urbanista ab@anabonifacio.com

Ela é organismo cuja pele se desenha a cicatrizes, feridas por fechar, tatuagens coletivas, sociais, culturais, materiais; É repositório dinâmico de camadas de tempo que se justapõem; É corpo e palco do quotidiano inteiro.

Ela é um mil-folhas de ideias e decisões.

Nem sempre doce, é ela, a Cidade.

Mesmo que vejamos as gruas dormir ou embalsamadas no céu, a cidade é – será – assunto sempiterno entre quem as habita, reflexão para especialistas, discussão de governos e de café. Faz parte. E, enquanto assim for, validados ficam os “ansiolíticos urbanos” de qualquer formato: em caracteres escritos ou desenhos, em conversas, palestras ou em sonhos. Virão outros.

Para 2013 (sem balanços, flashbacks ou déjà vus sobre o que já lá vai), da minha tômbola privada de palavras boas para usar em cada ano, saem “inspiração” e “conhecimento”. (A elas juntam-se outras duas: a montante, “desejo” e a jusante, “criação”.) Mas, para 2013, concentremo-nos no caminho: Inspirar para conhecer; Ver além do que insiste em tapar as vistas e, para isso, pesquisar, investigar, saber mais; Para, só depois, criar.

2013 é futuro.

Enquanto girava a tômbola, latejava-me, sem parar, a frase de Eduardo Lourenço: “Mais importante que o destino é a viagem.” Perfeita para a cidade, perfeita para o futuro.

Com mais ou menos ação, a cidade é sempre um verbo. E, essa, é certo, continua a latejar.

(texto publicado a 28 de dezembro de 2012)