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Fases da vida: Virando as folhas da agenda

Assim vou cumprindo, no seu ritual, o tempo; assim vou construindo, pedra a pedra, que é como quem diz, tarefa a tarefa, uma sucessão de decisões que me levarão ao fim de um percurso que tracei para os próximos anos.

Emília Pinto, empresária emiliapinto@gmail.com

Assim vou cumprindo, no seu ritual, o tempo; assim vou construindo, pedra a pedra, que é como quem diz, tarefa a tarefa, uma sucessão de decisões que me levarão ao fim de um percurso que tracei para os próximos anos.

Sento-me num rochedo da praia do Pedrógão, castigada que está pela tempestade recente, olho para a corrente e transporto-me para outras paragens, para outros rios que correm, para alto-mar e descubro que continua a correr um rio dentro de mim.

O barco sou eu própria e sinto-me aparelhada. E mesmo que ninguém dê o sinal de partida, soltarei amarras. Lanço um olhar de tristeza sobre a areia que viajou até às casas e lá longe, num mar zangado, imagino as caravelas que nos levaram a locais onde em tempos fizemos história. E fomos pátria.

Uma pátria que hoje recordo com nostalgia e um nó na garganta. Um sentimento de insatisfação de quem deseja ir mais longe; o desconforto de quem se incomoda e não se quer acomodada.

É preciso que nos mostrem que a viagem se faz de velas desfraldadas. É preciso que nos lembrem que quietação e estagnação são sinónimos. É preciso que abram a janela da nossa distração para voltarmos a olhar para os obreiros do nosso despertar coletivo. Os tais que lançam no charco a pedrada.

Porque assim se agitam as águas e assim se reconstrói um país.

(texto publicado a 2 de maio de 2013)