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Partilhando: A vida em segundos

Provavelmente só damos conta do valor da nossa vida quando confrontados com o “milagre” que tivemos de a não ter perdido numa dada situação.

Cristina Barros, professora do IPL e presidente da Incubadora D. Dinis cristinabarros.rl@gmail.com

Provavelmente só damos conta do valor da nossa vida quando confrontados com o “milagre” que tivemos de a não ter perdido numa dada situação.

Em março deste ano tive um acidente de automóvel de perda total da viatura. O carro foi para a sucata e eu, graças a um anjo da guarda que me protege, aos avanços da engenharia automóvel e à atenção que os construtores dão à segurança, ao cinto e ao airbag, não sofri literalmente nada a não ser ter ficado dorida durante alguns dias. Chovia fortemente quando, ao passar numa junta de dilatação, numa curva, o carro sai-me de controlo e andei às volta na via até ir embater no separador central do IC2 perto de Sacavém. Ia devagar e felizmente não bati em ninguém. Saí pelo meu próprio pé, fui ajudada por uns condutores que foram excecionais e que não me conheciam de lado nenhum, chamei o 112 e pedi ajuda a uns amigos que estavam por perto.

Os bombeiros e a polícia comentaram que era muito frequente existirem ali acidentes e que em dias de chuva era mais do que um acidente por dia. Na altura comentei de imediato com os bombeiros e a polícia: “Por que motivo não fazem obras na via para evitar este tipo de acidentes?”. “Já se fizeram melhoramentos”, respondem-me. A verdade é que continuam a existir naquele lugar acidentes com muita frequência. E eu pergunto: “Até quando?” “Até que alguém morra?”.

Como este lugar muitos outros existem em Portugal que carecem de intervenção para minimizar a ocorrência de acidentes. Por isso apelo a todas as entidades responsáveis pela manutenção das infraestruturas rodoviárias no nosso país (Brisa, Estradas de Portugal, municípios, etc) que desenvolvam todos os esforços para aumentar a segurança nas nossas estradas, pois são vidas que se salvam todos os dias e uma vida não tem preço.

Este acidente foi também um alerta para eu como condutora ter mais cuidado, reduzir a velocidade, evitar distrações e perceber que a qualquer momento algo de desagradável pode acontecer e de que nada nos serve andar com “quinhentas” lutas quando, em segundos, podemos perder o que temos de mais precioso ou ficarmos fortemente limitados.

Nesse dia e depois de fazer todos os exames que os médicos acharam por bem realizar no Hospital de Santa Maria, onde fui muito bem atendida, regresso a casa e sou literalmente abalroada pelas minhas filhas que obviamente não sabiam do assunto.

Hoje celebro todos os dias o facto de estar simplesmente viva, com saúde e junto daqueles que mais me amam, pois podia ter perdido a minha vida em poucos segundos.

(texto publicado a 9 de maio de 2013)