Tia, esqueci-me das boas maneiras! Fui mal-educada, conversei com o meu grupo de amigos em Portugal e esqueci-me que estamos em crise. Falta de emprego? Frustração pela ausência de oportunidades? Excesso de habilitações e patrões com problemas de gestão? Não conheço, nunca vi, prefiro esquecer.
Chamam-me agora a pequena burguesinha, quase a mesma personagem da canção do Seu Jorge. Tenho um iPad, um iPhone, um Mac. Fui ao Brasil, vou à Índia. Compro roupa, sapatos, livros e ainda “flirto” com um Kindle. Cereja no topo do bolo? Tenho uma gata tratada como rainha que já viajou por mais países que muitos dos meus familiares. Esta nova vida é confortável, mas tenho saudades de contestar [pausa: vou ao Google e procuro uma citação pseudo-intelectual que fale de consciência e crítica… tentativa falhada]. Falta-me coragem e os meus horizontes fecharam-se. Sinto culpa no prazer do dito capitalismo, de ter, de preencher com cores e egos mal resolvidos. Mas há sempre uma luz ao fundo do túnel, e a lanterna chama-se Pedro. Apresentou-me há umas semanas um projeto de cidadania. Feito por cidadãos, para cidadãos. A Academia Cidadã. Busque na Internet: vai ver que é possível pensar diferente, numa sociedade presa no cinza.
