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O meu diário: Bissexto

Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com
Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com

Não sou supersticiosa. Não acredito que gatos pretos dão azar, a não ser para os próprios que morrem mais atropelados, gosto do número treze, mas não à mesa confesso, e não me importo de passar por debaixo de escadas. Porém detesto anos bissextos.

Acho que transportam uma carga negativa que me incomoda. O que será isto senão superstição? O coitado do ano só tem mais um dia para transportar azar e não me parece que tantos azares caibam todos em 24h. Conheço muita gente que os detesta e até já pensei numa petição para acabar com eles. Espalhávamos as 24h que sobram pelos quatro anos e até dava para fazer mais qualquer coisita, sempre são mais seis horitas. Seis horas dá para ver mais 24 doentes no SNS e recuperar as listas de espera das consultas. Não tenho poder para tal, mas arranjava muitos adeptos. Querem desgraças fresquinhas aqui vão: morreram uma data de famosos e ardeu metade do país (Madeira incluída). Que os anos bissextos dão azar já é mais do que obvio para o David Bowie, Prince e George Michael, mas lá em casa já os meus pais não gostavam deles e eu continuo a tradição. Este ano foi o ano do homem fugido um mês à policia, de filhos de embaixadores impunes a maltratar portugueses e de uns quantos políticos corruptos a enlearem-se nos prazos para verem se escapam à justiça. Não posso ocultar a alegria do Euro que encheu de alento os portugueses e que perdurará até ao próximo bissexto que será em 2020.

Há quem diga, que em tempos idos, que nos dias 29 de fevereiro era permitido às mulheres pedir os homens em casamento. Se assim era, quem é que está interessado em regras e liberdade que ocorrem de 4 em 4 anos? Era mesmo gozar com as pobrezitas. Melhor do que nada que nos dias que correm não ganhamos nem mais um cêntimo para esse dia a mais de trabalho. Há várias ONGs que incentivem que esse dia ou pelo menos o que se ganha nesse dia se ponha ao serviço da comunidade. Mas enquanto isso não vira regra tenho o direito de não gostar desses anos atípicos com mais um dia em Fevereiro e não em Julho ou Agosto. Fora 2016 venha daí 2017. Feliz ano Novo!

 (Texto publicado na edição de 29 de dezembro de 2016)