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Passageiro do tempo: Um dia de cada vez

José Manuel Silva Professor/gestor do ensino superior jmsilva.leiria@gmail.com
José Manuel Silva
Professor/gestor do ensino superior
jmsilva.leiria@gmail.com

Portugal é um laboratório e por mais negro que seja o futuro não poderá ser comparado com o passado de atraso e miséria

Não há expressão portuguesa mais perversa e que mais se associe a estados de alma depressivos e prenunciadores de situações problemáticas futuras, mas parece que vivemos tempos propícios ao desespero.
Em Portugal, a despeito dos sinais positivos da economia, do défice mais baixo em 43 anos de democracia, do crescimento do emprego, há quem todos os dias se afadigue a perturbar-nos com perspetivas aterradoras para o futuro. Na cena internacional, Trump transformou-se na besta negra do momento, Marine Le Pen é apresentada como a coveira da UE, os russos e os chineses como um pesadelo emergente, enfim, o mundo como o conhecemos parece estar à beira de se desagregar.
Mas tudo isto não passa de uma crise evolutiva quando todos reconhecemos que o modelo político das nossas democracias precisa de se adaptar aos novos tempos e que as soluções do “politicamente correto” já não respondem aos desafios de populações muito mais informadas, esclarecidas e exigentes. O discurso de Trump foi sedutor para muitos americanos e é sedutor para muitos europeus, idem para a Sr.ª Le Pen, e os russos e os chineses querem aquilo a que têm direito, serem atores num mundo multipolar não dominado exclusivamente pelos USA. A civilização cristã ocidental não está em perigo, mas em mudança profunda.
Portugal é um laboratório e por mais negro que seja o futuro não poderá ser comparado com o passado de atraso e miséria. Estamos a avançar e queremos ir mais rápido mas o futuro não se constrói com lamúrias mas sim com ações.

(Texto publicado na edição de 23 de fevereiro de 2017)