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Lobo frontal: Começar a trabalhar numa indústria criativa

PEDRO OLIVEIRA

Sempre que tenho oportunidade aceito o convite para partilhar a minha experiência profissional em aulas abertas, com estudantes da área da comunicação, do marketing e do design. Faço-o com muito gosto e dá-me um imenso prazer este dar e receber.

 

poliveira@sistema4.pt

 

 

 

Sempre que tenho oportunidade aceito o convite para partilhar a minha experiência profissional em aulas abertas, com estudantes da área da comunicação, do marketing e do design. Faço-o com muito gosto e dá-me um imenso prazer este dar e receber. São momentos mágicos em que por vezes consigo ver o futuro a caminhar sobre o rasto que vou deixando. Preenche-me.

Invariavelmente, uma das perguntas mais frequentes, e que resulta da preocupação natural de quem sabe que a fase académica não dura para sempre e que a seguir a vida não será pêra doce, é: “Qual a fórmula mágica para estagiar ou começar a trabalhar numa agência de publicidade?” Também invariavelmente respondo: “Se a há, não a sei de cor. Mas uma coisa eu sei, dá muito trabalho e tem de ser do bom”. É aqui que aproveito e partilho alguns bons exemplos que já vivenciei ao vivo e a cores.

Pressuposto primeiro – Estar na lua – Ser criativo e trabalhar numa boa agência de publicidade não é para todos e dá muito trabalho. Não basta ser um idiota. As boas ideias têm de ser eficazes, quer para quem as põe em prática, quer para quem com elas irá beneficiar. Depois, isto tem de acontecer todos os dias e não apenas em dias de festa. É preciso estar atento a tudo, pesquisar, querer saber de tudo e sobre tudo. Querer sempre ver o lado de lá da lua, mesmo na lua nova.

Pressuposto segundo – o exemplo – Numa sexta-feira, algures no início de 2013, na recta final para a selecção de um estagiário, desafiei um dos candidados para uma entrevista logo à primeira hora da segunda-feira seguinte e fiz um pedido: “Surpreende-me e não me faças sentir que estou a perder tempo”. Por azar (ou por sorte) foi neste fim de semana que se abateu sobre a região uma ventania que levou tudo à frente, deixando muitas localidades sem energia eléctrica durante semanas, sobretudo para os lados da Marinha Grande. Pensei imediantemente que ia receber um telefonema a pedir adiamento, que “fiquei sem luz e a impressora berrou e estou tão desesperada…” Mas não recebi. Segunda-feira, nove da manhã e lá estava a candidata ao estágio, de mochila às costas e com ar confiante. Falou-se da ventania e dos estragos que tinha provocado, até que perguntei:”Então, mostra-me lá quem tu és e o que podes acrescentar aqui”. Da mochila saiu um pequeno livro verde, em pano, cosido à mão, com desenhos, grafismos manuais, pop-ups e uma história toda contada como se fazia há muitos, muitos anos. Na última página até tinha um pop-up de uma baliza em que eu teria de tentar marcar golo. Fiquei rendido e automaticamente saltou-me a pergunta: “Mas como é que fizeste isto?”. “Bem, como sabe fiquei sem computador e sem impressora no fim de semana, como a minha mãe é costureira, aproveitei os materiais lá de casa e não podia vir de mãos a abanar.”

Esta designer acabou por fazer um estágio profissional aqui na agência e felizmente continua por cá.

Nota: Entenda-se este espaço de opinião como uma partilha de perspectivas pessoais acumuladas nestes mais de vinte e cinco anos de trabalho, com projectos de comunicação e marketing, sobretudo da região, e não tanto como fundamento técnico para uso académico ou profissional.

Por decisão pessoal o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.