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Lobo frontal: A marca da música

A propósito do suplemento publicado pelo REGIÃO DE LEIRIA sobre as Bandas Filarmónicas do Concelho de Leiria, dei comigo a pensar que a Música bem poderia ser o mote para a nossa afirmação cultural

poliveira@sistema4.pt

A propósito do suplemento publicado pelo REGIÃO DE LEIRIA sobre as Bandas Filarmónicas do Concelho de Leiria, dei comigo a pensar que a Música bem poderia ser o mote para a nossa afirmação cultural, até com vista ao desígnio de 2027, a tal Capital Europeia da Cultura. Poderia ser a nossa marca, a nossa diferenciação, aquilo que nos torna desejavelmente interessantes.

A música é uma linguagem poderosa, que se democratizou nos nossos dias e que une diversas formas de arte e cultura, como a poesia, a literatura, o teatro, as artes plásticas, a fotografia ou o cinema.

É sabido que a música é universal, que não é uma actividade exclusiva de Leiria, nem de nenhum território em particular. No entanto, a cidade de Leiria e o seu concelho, entre outras coisas, são, hoje em dia, conhecidos pela quantidade e qualidade de projectos ligados à música. Diz-se, inclusivamente, que é uma região com um nível de educação musical acima da média e, por exemplo, a julgar pela quantidade de pessoas ligadas às bandas filarmónicas, é muito provável que assim seja. Aliás, se fizermos um pequeno exercício de memória para listar os projectos de referência da região directamente ligados à música, podemos concluir que não faltam exemplos que atestem esta visão. Vai uma aposta? Vamos lá: Orfeão de Leiria, Música na Cidade, SAMP, Fade in, David Fonseca, Why Portugal, Rastilho Records, António Cova, Entremuralhas, Orquestra de Jazz de Leiria, First Breath After Coma, Rua Direita, Pinhal das Artes, Ohmnichord Records, Música para Bebés, Festival A Porta, Leiria Festival, NWFD, The Allstar Project, Surma, Ópera no Património, isto apenas para listar os nomes que me vieram logo à cabeça…

Pois. E se pensarmos que não tem havido, por parte das entidades públicas, uma política especializada, consistente, agregadora, focada e orientada para o desenvolvimento estruturado da música e que não existe uma infraestrutura de dimensão média, vocacionada para espectáculos ao vivo, este feito é ainda mais admirável. Sim, nos últimos anos tem havido algum investimento público na produção e apoio a actividades musicais, o que é bom, mas é preciso investir mais na fase da criação. Por exemplo, com a criação de um espaço, tipo hub musical, com estúdios, ateliers, salas de ensaio e de apresentação, residência de artistas, onde a comunidade pudesse evoluir e partilhar o seu talento e o resultado do trabalho. A cidade tem espaços fantásticos para este desígnio, e acredito que a comunidade iria aderir e apoiar com todas as forças. Depois, não bastam as infraestruturas, é preciso pessoas para as dinamizar, mas até nisso estamos bem servidos. Há por aí pessoas verdadeiramente apaixonadas pela música, que já lhe deram muito, mas que ainda têm muito para lhe dar. Lembro-me do Carlos Matos (Fade in/Entremuralhas) que até já foi distinguido pelo Município, do Paulo Lameiro (SAMP), do Hugo Ferreira (Ohmnichord/why Portugal), do Gui Garrido (A Porta) e muitos outros, com a mesma paixão, mas dos quais não sei os nomes.

Não deve haver muitos concelhos ou cidades pequenas com uma política cultural centrada na música e com a qual, naturalmente, se entrelaçam outras formas de arte e cultura. A música como marca, como meio, como origem, como fim e como elemento de ligação de cultura, de culturas e entre culturas. Leiria pode ser uma das poucas. Leiria já tem veia para a música. Leiria tem a dimensão exacta para um projecto controlado e sustentável. Leiria tem a centralidade. Leiria tem a ambição. Leiria tem a iniciativa. Leiria tem música para os meus ouvidos. Leiria, música de marca.

Digo eu, que não percebo muito de música.

Nota: Entenda-se este espaço de opinião como uma partilha de perspectivas pessoais acumuladas nestes mais de vinte e cinco anos de trabalho, com projectos de comunicação e marketing, sobretudo da região, e não tanto como fundamento técnico para uso académico ou profissional.

O autor escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.