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O meu diário: Assistentes operacionais

hml.vasconcelos@gmail.com

Nestes últimos tempos tenho sentido na pele o que é ter gente doente e internada. Isto de passar de médica a cuidadora tem muito que se lhe diga. Ver o mundo por outro prisma é sempre uma oportunidade de crescimento. Eu já sabia, mas ultimamente reforcei a minha opinião sobre as assistentes operacionais, vulgo auxiliares de ação médica, na saúde. Um trabalho mal pago, mas talvez o mais importante na área do cuidar. Deixemos o tratar para os senhores enfermeiros e senhores doutores que quem ganha no cuidar são elas, e eles, mas maioritariamente é uma profissão feminina.

Quem nos acode à campainha, quem nos põe a fazer chichi e quem nos traz uma almofada, quem nos vira a almofada ao contrário, quem nos põe o tabuleiro a jeito, quem nos arranja uma palhinha para bebermos água. Quem nos atura as neuras, as más respostas os desabafos gerados pelo desespero? Elas sem dúvida. Quem reflete sobre os nossos pijamas, quem se preocupa com chinelos e quem nos chega o telemóvel que está demasiado longe para lhe chegarmos. Quem tem de explicar porque raio não podemos comer ou beber e quem nos diz que horas são. Quem nos penteia ou nos aconchega a roupa de cama e quem nos responde à pergunta hoje é quinta-feira, não é?

Os enfermeiros à custa de tanto se diferenciarem, e ainda bem, perderam muito desse campo de humanidade. Dos médicos nem se fala que nós temos muito pouco tempo para estar com os doentes e não percebemos nada de almofadas, lençóis ou resguardos, e nunca seremos sensíveis aos pedidos de levante-me a cama ou vire-me para a esquerda que já me estão a doer as costas. Isso são coisas menores até porque não são as nossas costas que nos apoquentam.

A elas ninguém as defende que não têm ordem e muita gente as vê como empregadas de limpeza. Se há injustiça no avaliar de uma profissão o protótipo serão as assistentes operacionais. Eu sou fã delas, e quando elas são humanas, meigas e eficientes, e já agora pacientes, personificam os anjos na terra. Experimentem estar doentes que logo me darão razão. Experimentem a vulnerabilidade da dependência que logo se vão rever naquilo que acabo de contar.

(Artigo publicado na edição de 22 de fevereiro de 2018)