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Por quanto tempo estaremos na moda?

“Queremos ser a Capital Europeia da Cultura, queremos ser vistos, cada vez mais, como uma cidade que recebe com um sorriso e se despede com um “até já”, e queremos, ao domingo de manhã, passear e ouvir os flashs das máquinas a dispararem, nas mãos daqueles que nos veem pela primeira vez”.

mariafranciscagama@hotmail.com

A cidade tem crescido a um ritmo alucinante. De uma semana para a outra abre um restaurante fancy na Rua Direita, um bar que nos faz sentir em casa atrás da já encerrada Zara, começam a construir um centro comercial onde durante anos se fez a Semana Académica de Leiria, e os recantos são embelezados com pinturas que nos fazem ter cada vez mais orgulho quando levamos alguém a conhecer o local que nos viu nascer.

Queremos ser a Capital Europeia da Cultura, queremos ser vistos, cada vez mais, como uma cidade que recebe com um sorriso e se despede com um “até já”, e queremos, ao domingo de manhã, passear e ouvir os flashs das máquinas a dispararem, nas mãos daqueles que nos veem pela primeira vez. O centro está renovado, os cafés ditos banais vão tendo vizinhos mais excêntricos, que servem brunchs e que apostam em decoração dos anos 70 e 80, e não há como negar que temos sido reconhecidos pelo investimento que fizemos no Museu e no Castelo: 13 mil visitantes mensais, segundo dados fornecidos pelo Diário de Notícias.

Pelo país, também notam como amadurecemos: a NiT, um jornal online que conta com milhares de visualizações diariamente, referencia, esta semana, que “Leiria está na moda”, e dá a conhecer três novos espaços que não podemos perder… O Apartado 28, o Sushiama, e o Fitness Factory. Eu diria que também será paragem obrigatória as várias hamburgarias que se foram plantando pelas ruas, os vários cafés que servem opções mais saudáveis e o Teatro José Lúcio da Silva, que nos oferece a nós, e àqueles que a isso estejam dispostos, programas culturais feitos por artistas que, até há uns tempos, teríamos de nos deslocar à capital para contemplar.

No entanto, quanto tempo durará? Durante quanto tempo estarão estes novos restaurantes, cafés, bares e ginásios abertos? Poderemos nós, leirienses, que gostamos tanto de ver estes locais cheios, a contribuir para o crescimento económico da cidade, continuar a optar por, quando vamos almoçar fora, dirigir-nos exclusivamente ao LeiriaShopping, ou a uma cidade perto, onde, ainda assim, há mais lojas e oferta?

Não podemos esperar que os turistas revitalizem a cidade onde vivemos. Não podemos ficar indignados cada vez que um café de que gostamos, no centro da cidade, fecha, quando nós próprios escolhemos passear, ao fim de semana, noutra cidade ao invés da nossa. Vamos dizer que já conhecemos tudo, e que, portanto, Coimbra ou Lisboa serão melhores opções para um dia soalheiro de sábado? Quantos de nós já não visitam o Castelo há anos, ou quantos de nós querem efetivamente fazer o roteiro cultural, apresentado há uns dias pelo Município?

Temos de ser agentes da evolução de que queremos beneficiar. Não podemos querer viver numa cidade em que os estabelecimentos não abrem falência, ou em que as pessoas não vão embora para outras cidades, com uma maior taxa de empregabilidade, ou que contribuem mais ativamente para o PIB nacional, se não valorizarmos o que temos. Por isso, leirienses, vamos sair de casa: vamos passear na nossa cidade, vamos consumir na nossa cidade, vamos VIVER a nossa cidade. Eu quero fazer parte do progresso! E vocês?

Os turistas vão e vêm, e que venham porque os queremos muito receber, mas nós ficamos, e gostamos de aqui estar, e queremos gostar cada vez mais: cabe-nos também a nós ser parte desta jornada que os fará ver que Leiria está no mapa… E que é cada vez maior.