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O meu diário: Helder Roque

Todos sabem quem é e o conhecem. É o presidente do hospital, o meu patrão. A esta hora já estão a achar que isto é um acesso de “graxa” na tentativa de obter mais uns equipamentos para o meu serviço.

hml.vasconcelos@gmail.com

Todos sabem quem é e o conhecem. É o presidente do hospital, o meu patrão. A esta hora já estão a achar que isto é um acesso de “graxa” na tentativa de obter mais uns equipamentos para o meu serviço. Estão enganados, isto representa um retrato fiel do Dr. Helder Roque a propósito da distinção que ele vai obter no próximo sábado, ao receber a medalha de Serviços Distintos, Grau Ouro, do Ministério da Saúde.

O Dr. Helder é daqueles homens de carácter, à moda antiga, defensor das suas convicções. Tem na sua família o seu principal alicerce e depois faz do seu trabalho a sua segunda família. Faz serão ao domingo à noite no hospital, e no dia-a-dia é dos primeiros a chegar e dos últimos a sair. Não há ministro que o intimide e enfrenta-os sem receio, apenas com a certeza que está no bom caminho. A casa amarela, como ele gosta de chamar ao nosso hospital, é a sua grande paixão. Vai até ao fim do mundo a exigir respeito pelo trabalho dos seus colaboradores e na defesa dos nossos doentes. Quando há uma crise nunca volta as costas e faz questão de ler todas as reclamações e elogios. É daqueles que exige manter a imagem do hospital sem mancha e que a roupa suja se lave em casa. É um homem que chora e não tem vergonha de o fazer em público porque as emoções são coisas que não consegue, nem quer controlar. Já o vimos chorar em situações de alegria e de tristeza e isso faz dele um ser humano mais completo, capaz de sentir e de expressar o que lhe vai na alma. É um homem do povo, que gosta de uma boa festa, de estar junto das pessoas, de as ouvir, de as entender.

Agora vamos lá aos defeitos: Benfiquista doentio daqueles que não se pode aturar a seguir a uma derrota do Benfica, daqueles de pouco gosto que vai de cachecol para o trabalho quando o dito se sagra campeão. Teimoso no seu grau mais elevado, obstinado, quase irracional. Se ele cismar que tem de ser assim, não teime, não meça forças, deixe a coisa passar. Dois dias depois, se não tiver razão, costuma voltar atrás e dar o braço a torcer. Meticuloso, estuda tudo ao detalhe e até na gramagem do papel se mete. Ui, façam folhetos sem apresentação que vão ver o que ele diz.

Mas mesmo assim o Dr Helder é um ser humano maravilhoso, um líder como poucos. Esta medalha é mais que merecida. Parabéns! (Nota: A gastrenterologia está a precisar de mudar de instalações).

(Artigo publicado na edição de 5 de abril de 2018)