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Tempo incerto: No purgatório

A História do País tem oscilado entre ciclos de dependência e de resistência à dependência.

redacao@regiaodeleiria.pt

História do País tem oscilado entre ciclos de dependência e de resistência à dependência. Face ao declínio do Império do Oriente, a elite nacional, entre 1580-1640, abdicou da soberania para se render a Espanha. Depois, foi-se tornando dependente da potência marítima dominante, a Inglaterra, entre o século XVII e as primeiras décadas do séc. XX.

A política manufactureira do Conde da Ericeira morreu com os interesses da aristocracia vinhateira e o Tratado de Methuen (1703). Os efeitos da tentativa desenvolvimentista do Marquês de Pombal não resistiram à reacção interna e às consequências das invasões francesas (1807-1811). No rescaldo, passámos a ser um protectorado inglês.

O século XIX, marcado pela lenta e sangrenta afirmação do liberalismo, esgotou-se na dependência externa e na intromissão político-militar estrangeira.

A “Regeneração” de Fontes Pereira de Melo trouxe os caminhos de ferro e a crença no progresso, que se desfez às mãos dos credores ingleses e no Ultimatum de 1890.

O discurso nacionalista da 1ªRepública não obstou ao envio de tropas para a Flandres, na 1ªGuerra Mundial, amparado pela ajuda britânica e em mais empréstimos contraídos em Londres.

Salazar, após ter alimentado a autarcia, viu-se obrigado, após a 2ªGuerra Mundial, a abrir a economia ao capital estrangeiro e a ensaiar a industrialização, enquanto a questão colonial amarrava o regime a um caminho sem retorno.

Marcello Caetano, entalado entre a necessidade de reformar e a defesa do império, falhou a modernização, apesar de ter lançado as bases para grandes projectos, como o porto de Sines e a barragem do Alqueva.

A adesão à CEE, num país dado à mitificação das ilusões, foi um novo alento. À custa dos “dinheiros fáceis”, o País abdicou de interesses nacionais permanentes e alimentou o sonho de “melhor aluno,” no reinado de Cavaco Silva. Três bancarrotas e uma contínua perda de soberania deviam ter feito soar o alarme sobre as fragilidades estruturais e os erros na acção política. Em anos recentes, empresas estratégicas foram alienadas ao capital estrangeiro e a Banca transformou-se num sorvedouro da riqueza nacional. Temos, agora, melhor qualidade de vida, mas também a pagamos com dependência política e económica.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(Artigo publicado na edição de 12 de abril de 2018)