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Passageiro do tempo: Jovens em transe

A situação não é nova, mas é crescentemente preocupante. Falamos dos jovens que chegam à idade adulta sem um projeto de vida definido, não conseguem encontrar uma atividade profissional condizente com as suas habilitações e expectativas, mas não abdicam de um estilo de vida acima das suas possibilidades próprias e só mantido à custa do apoio dos pais, avós e outros familiares.

jmsilva.leiria@gmail.com

A situação não é nova, mas é crescentemente preocupante. Falamos dos jovens que chegam à idade adulta sem um projeto de vida definido, não conseguem encontrar uma atividade profissional condizente com as suas habilitações e expectativas, mas não abdicam de um estilo de vida acima das suas possibilidades próprias e só mantido à custa do apoio dos pais, avós e outros familiares.

Uma percentagem significativa destes jovens são oriundos de famílias da classe média ou alta, com rendimentos mensais apreciáveis e que sempre lhes puderam propiciar condições de vida confortáveis. Chegados ao fim dos estudos superiores, confrontam-se com dificuldades várias no acesso aos empregos a que se julgam com direito, dão conta de que o mundo mediático que todos os dias reporta casos de sucesso de jovens talentosos que fazem fortuna de um dia para o outro lhes passa uma imagem desfocada da realidade que conhecem e acomodam-se ao conforto parental enquanto vão esperando que o acaso lhes resolva o problema.

Duas situações agravam este cenário, por um lado percebem que não vão conseguir facilmente chegar ao nível remuneratório e social dos pais, por outro, habituados a facilidades, julgam ser dever dos progenitores continuar a sustentá-los incluindo os seus prazeres e vícios.

Incapazes de se lançarem ao mundo, vão engrossando o mercado da formação que, nalguns casos, apenas prolonga a ilusão ou deixam-se ficar numa inação doentia, enquanto as famílias, preocupadas mas incapazes de definirem linhas vermelhas, não lhes apontam caminhos realistas, ainda que desconfortáveis.

Haverá situações muitos piores, mas este grupo muito específico de jovens precisa de atenção crescente, sobretudo que as suas famílias não lhes alimentem o sentimento de perda e frustração e os empurrem para a vida, em vez de os tratar como coitadinhos vítimas dos tempos.

(Artigo publicado na edição de 10 de maio de 2018)