Em 1958, Humberto Delgado, general da Força Aérea, rompe com o regime de Salazar e apresenta a sua candidatura à presidência da República, com o apoio inicial da oposição ao Estado Novo, unida em torno de um programa para a democratização do regime.
A influência política de Humberto Delgado vai muito para além da oposição tradicional e penetra no “situacionismo” e no partido único, a União Nacional.
Delgado mostrou uma enorme capacidade de mobilização popular, num momento em que o modelo político e económico do Estado Novo, alicerçado na autarcia e no corporativismo, já evidenciara as suas insuficiências e levara Salazar a iniciar uma incipiente industrialização e abertura ao estrangeiro, expressa na adesão ao Plano Marshall (1948) e depois à Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA).
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>A 25 de Maio, Delgado realiza um périplo pelo Distrito e visita Leiria, onde vai prestar homenagem aos combatentes da 1ª Guerra Mundial, no Largo de Goa, Damão e Diu. Segundo a PSP, teria cerca de três centenas de pessoas à sua espera. O semanário Região de Leiria afirmou, na altura, que o Largo estava repleto de gente, tendo-se ouvido “vibrantes palmas e vivas ao general e às ideias e propósitos que representa”.
No concelho de Leiria, a base de apoio ao general é constituída por parte da elite económica e social e por figuras influentes, algumas saídas das fileiras da União Nacional e da Administração Pública. Os comerciantes, industriais e proprietários representam cerca de 37% dos 290 cidadãos identificados pelas autoridades como apoiantes de Humberto Delgado, sendo a comissão concelhia da candidatura liderada por advogados e por médicos.
Segundo os dados oficiais do Governo Civil, no dia 8 de Junho, votaram em todo o distrito 68,18% dos 64.158 eleitores recenseados, tendo Humberto Delgado obtido 10.335 votos e o candidato de Salazar, Américo Tomás, 33.264. No concelho de Leiria, Delgado ganhou nos Milagres, em Carvide e na secção de voto da Gândara dos Olivais.
O Governador Civil considerou que o acto eleitoral decorreu com “civismo e legalidade”. Todavia, Vasco da Gama Fernandes, o presidente da comissão distrital da candidatura de Delgado, a 21 de Junho, denuncia as fraudes, as irregularidades e as violências praticadas pelas autoridades.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(Artigo publicado na edição de 5 de julho de 2018)