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Passageiro do tempo: Ser ou não ser SMO

Os tempos mudaram, o país mudou, os jovens mudaram, mas as guerras continuam e a necessidade de garantir a defesa do país também.

jmsilva.leiria@gmail.com

Começo por uma declaração de interesse, fiz o Serviço Militar Obrigatório durante três anos, como oficial miliciano, num tempo em que o país estava em guerra, aprendi muito na “tropa”, sobretudo sobre disciplina e liderança, e foi durante esses três anos que alguns traços mais marcantes da minha personalidade foram amadurecendo e as bases do meu futuro construídas. Não foram três anos perdidos, foram três anos de aprendizagem intensa, de experiências decisivas, que nunca teriam sido possíveis noutro contexto.

Nos tempos já distantes da minha adolescência, ir “às sortes”, como era popularmente apelidada a inspeção militar, era uma festa e uma espécie de cerimónia iniciática da passagem para a idade adulta. Mesmo com a guerra no horizonte e com a consciência já clara de que não havia uma solução militar para o movimento imparável de emancipação das colónias, o serviço militar tinha um papel fundamental na homogeneização social e era para muitos a primeira oportunidade para saírem “das berças”, criarem hábitos de higiene, aprenderem comportamentos sociais, em certos casos até a ler, e a fazerem-se amizades para a vida. Sem o SMO nunca teria havido Abril.

Depois veio a ressaca da revolução e foi-se o SMO considerado pai de todos os males que afetavam os jovens, obrigados a “perder” tempo de vida em atividades que nada os interessavam nem beneficiavam a sociedade. No fundo, o que sempre esteve em causa foi a desvalorização da instituição militar e a cegueira pacifista dos que veem o mundo à luz do “make love, not war”.

Os tempos mudaram, o país mudou, os jovens mudaram, mas as guerras continuam e a necessidade de garantir a defesa do país também. A discussão sobre o SMO volta a irromper e é um bom tópico para mobilizar os que não se resignam a respeitar pronunciamentos de “minorias ativas”, nem a aceitar ditaduras de opinião.

(Artigo publicado na edição de 23 de agosto de 2018)