Um pouco por toda a Europa os partidos de extrema-direita apresentam uma influência crescente e estão no poder, sozinhos ou coligados, em vários países. A agenda política é conhecida e integra as temáticas da imigração, do desemprego, da perda da soberania e de identidade nacionais, no contexto da UE. Deve, ainda, referir-se o chauvinismo, a xenofobia e um crescente anti-semitismo que atinge, também, partidos de esquerda como o Trabalhista, no Reino Unido.
Recorre-se à agitação política de novos e velhos fantasmas, explora-se o ressentimento e cultiva-se a descrença de muitos sectores sociais nos partidos do sistema, demasiadas vezes carregados de escândalos e clientelas, para além de uma crescente descaracterização ideológica e da submissão política aos ditames ultraliberais da austeridade gerada em Bruxelas.
O filósofo francês Rosseau recordava que o “bem e o mal correm da mesma nascente” e, assim, não podemos deixar de considerar que os novos fenómenos de raiz autoritária resultam dos vazios , das perversões do sistema democrático, das desmesuras entre o poder e o bem-estar colectivo e da perda de confiança com que o cidadão comum se vai confrontando no seu quotidiano.
O desgaste das instituições e a fragilidade dos órgãos que deviam fiscalizar os abusos leva a um sentimento generalizado de frustração que favorece o populismo e o messianismo. Os partidos do sistema parecem incapazes de renovar a sua prática e a mensagem fica, muitas vezes, reduzida a uma mera pincelada diáfana para encobrir as misérias e os vazios de todos conhecidos. O discurso político vem perdendo força e deixa-se enredar por agendas mediáticas ou claudica perante o ruído das redes sociais.
A par da crise institucional e de legitimidade funcional, difunde-se uma crise de valores e de princípios éticos na acção política. Os governantes e os dirigentes político-partidários deviam saber que os seus erros e omissões permitem que a democracia engendre os seus próprios inimigos.
No século XX, a democracia parlamentar e pluripartidária teve como principal inimigo o totalitarismo, saído das cinzas da 1ª Guerra Mundial e da Crise de 1929. Hoje, a principal ameaça vem das disfunções internas do sistema político.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(Artigo publicado na edição de 6 de setembro de 2018)
Anónimo disse:
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