Assinar

Passageiro do tempo: A farsa da autonomia

O sistema de ensino, cada vez mais estatizado, precisa de uma revolução.

 

jmsilva.leiria@gmail.com

 

O Tribunal de Contas fez uma auditoria, por amostragem, às escolas com contrato de autonomia e chegou à conclusão que “mais de 40% das escolas não cumprem os objetivos a que se comprometeram”. Ora, as escolas fazem o que podem, o problema é que os meios nunca são os prometidos e a burocracia faz o resto.

Sei do que falo, acompanho há décadas o processo, já tive responsabilidades no Ministério, já presidi a duas comissões que supostamente coordenavam o processo de autonomia em duas escolas, fiz parte de órgãos de outras em que o assunto era acompanhado, e a perspetiva foi sempre a mesma, boas intenções, realizações zero.

Se repararem bem, em Portugal o tópico mais discutido não é a escola enquanto “formadora de personalidades”, são os assuntos profissionais dos professores. Tirando Veiga Simão, Roberto Carneiro e Marçal Grilo não há um ministro que nos tenha ficado na memória por saber de educação, por ter ideias motivadoras, fora da caixa, de futuro, infelizmente, ou se dedicaram a desmoralizar os professores e dar cabo das escolas ou pura e simplesmente não existiram.

Os gestores escolares fazem o que podem e alguns fazem muito, mas não se pode confiar no acaso, gerir é uma tarefa cada vez mais complexa, e nem todos têm competência para a exercer. A gestão escolar em Portugal é, em geral, fraca e pouco escrutinada. Falta motivação, formação, articulação. E num sistema marcado pela centralização férrea quem foi treinado para gerir com autonomia, caso ela existisse?

O sistema de ensino, cada vez mais estatizado, precisa de uma revolução, a reforma já não chega, olhe-se para o mundo, veja-se o que se passa com as profundas e rapidíssimas transformações que estão a mudar completamente a forma como vivemos e compare-se com o funcionamento das escolas. O problema não é destas, é do sistema que construímos e teimamos em manter.

(Artigo publicado na edição de 21 de março de 2019)