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Cultura

Brutt Custom Drums. O baterista que faz baterias numa garagem da Marinha Grande

Hoje, 20 de setembro, é Dia do Baterista. Fomos descobrir o que anda a fazer Bruno Julião, baterista da Marinha Grande que tem uma particularidade: fabrica baterias como quem cria peças de arte.

Bruno Julião fabrica as Brutt Custom Drums desde 2015 numa garagem na Marinha Grande

Manuel Leiria
Jornalista
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt

A internet “diz” que hoje, 20 de setembro, é o Dia do Baterista. Não se sabe ao certo porquê, mas nada como aproveitar a ocasião e saber o que anda a fazer Bruno Julião, baterista da Marinha Grande que tem uma particularidade rara: faz as próprias baterias.

Bruno começou em 2015 quando encontrou no Youtube alguém dos Estados Unidos da América e da Suíça a explicar como fazê-las. Pensou: porque não? Desenhador de moldes e com gosto pelos trabalhos manuais, lançou mãos à obra.

Preparou ferramentas, aventurou-se nuns esboços e cortou ripas de madeira. Digeriu frustações e saboreou entusiasmos. No final tinha um bombo novo. “Ainda o tenho hoje”.

O músico, que tem no currículo 8 Rockin Shoes, Monomonkey, Us The Bear, entre diversas outras bandas, diz ser indescritível a sensação de tocar uma bateria construída por si próprio. “Dá um gozo do caraças tocar numa cena que fizeste. Não consigo explicar bem. Sei o trabalho que deu, as dores de cabeça e o gozo que tive”.

Com o primeiro bombo pronto, havia que o “batizar”. Bruno lembrou-se que lhe chamavam “Brutal” no secundário, pelo estilo alternativo: calças justas, cabelo comprido, t-shirt dos Nirvana. “Alguém me chamou ‘Brutal’ e pegou”. Daí, e da vontade de fazer baterias com “um nome potente e grave, como eu gosto de tocar”, surgiu Brutt Custom Drums, projeto que desenvolve nos tempos livres numa garagem da Marinha Grande.

Lá, Bruno Julião cria baterias a partir da técnica stave shell, que consiste em colar ripas e dar-lhes forma, como as aduelas dos barris de vinho. As baterias convencionais são habitualmente de laminado de madeira. “Estas não são melhores nem piores. São mais artesanais e têm mais madeira”. As Brutt Custom Drums são sobretudo de mogno, “mais grave e mais quente”.

A ideia inicial era apenas fazer baterias para uso próprio. Mas Bruno Julião não resistiu aos apelos dos amigos músicos. Já fez meia dúzia de tarolas e bombos e prepara-se para construir dois timbalões, outro dos elementos de uma bateria.

O feedback dos colegas bateristas tem sido “fantástico”, mas profissionalizar a Brutt Custom Drums está fora de questão. “O mercado em Portugal não existe. Tinha de ter uma carteira de clientes internacional. São baterias muito específicas e ficam um bocadinho dispendiosas. É mais uma peça de colecionador”.

Como qualquer artista que se desliga da sua obra, Bruno Julião sofre quando vê partir as baterias que faz. “É mesmo muito difícil”, mas continua a construí-las, mesmo que não ganhe dinheiro com isso.

“É um escape e adoro trabalhar madeira. Adoro o cheio, o tato da madeira… Nem sempre é um mar de rosas. Às vezes largo isto e vou-me embora para não partir tudo! Quando é para correr mal, é para correr mal…”. Mas volta sempre à oficina: “Dá-me imenso gozo começar com uma tábua e acabar com uma tarola ou um bombo!”.

“Os bateristas são uma espécie rara”

Tempos houve em que a Marinha Grande era “o sítio onde havia mais bandas por metro quadrado”. “De duas em duas casas havia uma banda a ensaiar, algumas à mesma hora”, recorda Bruno Julião com uma réstia de saudade. Ele começou a tocar bateria aos 13 anos e viveu por dentro essa época frenética. “Cheguei a tocar em quatro bandas ao mesmo tempo, porque não havia bateristas suficientes”. Hoje o panorama mudou. “Ainda há alguns e acho que não estamos em extinção, mas somos uma espécie rara” e preciosa, até pelo papel vital que desempenham: “Se o baterista for mau, a banda até pode ser muito boa, mas vai soar sempre mal. Um baterista tem de ter noção de ritmo”. 
Apesar de haver diversas escolas de música na região onde muitos jovens aprendem bateria, a maioria fica pelo caminho,
seja por falta de motivação ou de sítios para tocar. “Já não é como antes. Não há o ‘movimento’ que havia”, reforça Bruno, assumindo, contudo, que se antes havia mais bateristas, “também havia pseudo-bateristas”. Hoje, além de poucos bateristas, também existem menos bandas e músicos. A Marinha Grande, reconhece Bruno Julião, “perdeu um bocadinho”. “Há mais atividade musical em Leiria, com a Omnichord [Records]”, admite, destacando os First Breath After Coma: “Adoro, neste momento é a melhor banda da zona e, no estilo deles, não há melhor em Portugal”. Bruno viu-os tocar há vários anos, ainda enquanto Kafka Dog, no Beat Club. “Eram putos a tocar bué de bem! Fiquei de boca aberta”. Elogia ainda “a Surma e o Nuno Rancho”, muitas vezes ignorado: “Não percebo como é que ele não é muito mais reconhecido”.  Pela Marinha Grande, alguns músicos alguns da “velha guarda” ainda ensaiam, mas mais para “consumo interno”. “Com Monomonkey, antigamente, íamos ensaiar duas ou três por semana”. Mas, como tantas outras bandas, uns foram para Lisboa trabalhar, outros tiveram filhos… “A oportunidade para ensaiar já não é tanta, porque se trabalha até tarde, à noite estamos cansados…. A banda acaba por ficar em suspenso”. Pontualmente, juntam-se para uma tarde de ensaios para matar saudades. “É muito bom. Passamos um bom bocado”.


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