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Cartas ao diretor

Alunos dão lição de Cidadania em dia de greve

O dia em que os alunos deram uma bofetada de luva branca a todos aqueles que não têm a coragem de lutar pelos seus direitos.

9 de fevereiro. O dia de trabalho inicia-se com a habitual concentração silenciosa de profissionais de educação junto ao portão da Escola José Saraiva, em Leiria. Enfileirados, com cartazes de protesto nas mãos ou pendurados ao pescoço, dispersam ao toque de entrada das 9 horas. Uns vão-se embora por estarem em greve, outros vão trabalhar.

As funcionárias do refeitório não comparecem no seu posto de trabalho. Refeitório fechado.

A responsável da Direção circula por todas as salas de aula para contabilizar o número de alunos com senha de almoço: são cerca de 300, num universo de mais de 900. A Escola decide enviar aos Encarregados de Educação, por correio eletrónico, através de cada Diretor de Turma, a informação de «que o refeitório, hoje, dia 09 de fevereiro, está encerrado por motivo de greve dos funcionários da empresa.» Assim mesmo! Perto das onze da manhã, larga-se a ‘bomba’ nas mãos dos pais. Eles que decidam o que fazer, pois não há informações mais explícitas no email enviado.

O que parecia o início de uma manhã tranquila rebenta com um ruidoso protesto dos alunos, perto das 11h50, quando percebem que não há refeitório a funcionar, mas que as aulas vão decorrer dentro da normalidade possível.

Começa o vaivém de encarregados de educação para a escola. Trazem almoço improvisado ou vão buscar os filhos, porém não deixam de reclamar com quem podem: os auxiliares de ação educativa, que dão a cara à porta da escola e verificam as condições de segurança nos movimentos de adultos e jovens. São eles que ouvem o justificado protesto dos pais, são eles que pedem desculpa, apesar de não terem responsabilidade nenhuma na decisão da Escola. Também há os que não vêm, que não podem ou desconhecem a situação.

O bar abre uma hora mais cedo, às 12h30, com quatro trabalhadoras incumbidas de “alimentar” os alunos com um pão e um sumo…

Último intervalo da manhã. Novo protesto dos alunos, desta vez com cartazes improvisados: “Um pão não sustenta a fome”, lê-se num deles, noutro “Um pao não chega”. O erro ortográfico passa despercebido, contudo a mensagem chega.

9 de fevereiro: o dia em que os alunos deram uma bofetada de luva branca a todos aqueles que não têm a coragem de lutar pelos seus direitos. Afinal, a Educação para a Cidadania vai dando os seus frutos…

Profissional de Educação, Leiria

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