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Culturismos: Piratas à força!

Falemos de leis e de assaltos, falemos da “revolução” que se prevê no PL 118 que, ao que tudo indica, vai ser aprovado pela generalidade dos partidos com assento parlamentar.

Hugo Ferreira hjferreira@gmail.com

Falemos de leis e de assaltos, falemos da “revolução” que se prevê no PL 118 que, ao que tudo indica, vai ser aprovado pela generalidade dos partidos com assento parlamentar.

Segundo este diploma, todo o ser humano é um potencial pirata e qualquer dispositivo eletrónico com memória (seja uma pen, uma impressora ou um frigorífico) tem como principal utilização a cópia de obras protegidas por direitos de autor e, por isso, deve passar a ser taxado convenientemente (podendo o seu preço aumentar entre 5 a 200%, conforme as características técnicas de que disponha).Essa verba vai ser gerida por uma instituição e, como se destina a uma compensação devida aos autores, imagine-se que, depois de toda a burocracia e divisões e gastos administrativos, os autores cheguem a receber cerca de 10% do valor total das receitas das taxas (e depois pagam os impostos devidos sobre esses 10%).

Creio que esta punição preventiva aos consumidores, se aceitável, peca por defeito. Tenho mesmo a noção de que, seguindo a lógica, deveriam taxar tudo o que permite copiar obras ou ideias de outros como o papel, as canetas, os óculos ou a capacidade de raciocínio. Aliás, podiam impor exames de QI e taxar cada pessoa em função do respetivo nível, ou taxar os nascimentos (até porque cada nascituro é um potencial pirata).

Alastrando a outros domínios, consigo imaginar, dentro de pouco tempo, o Ministério da Justiça a poder taxar anualmente todos os cidadãos pela probabilidade de virem a blasfemar ou a necessidade de, ao pagar o imposto de circulação automóvel, também poderem impor uma taxa obrigatória para a possibilidade de vir a ser excedido o limite de velocidade com o veículo.

Lembrei-me de trautear novamente uma canção de um programa de televisão de há muitos anos: “Somos piratas, só não trazemos as gravatas porque não sabemos fazer nós. Há mais piratas e com gravatas mas afinal os piratas somos nós”.

(texto publicado na edição em papel de 3 de fevereiro de 2012)