Assinar

Passageiro do tempo: O Estado irresponsável

Uma coisa é a vox populi, outra o apuramento isento da verdade e a punição de quem por ação ou omissão teve responsabilidades.

jmsilva.leiria@gmail.com

O recente acidente com o helicóptero do INEM veio relançar a polémica sobre a incapacidade do Estado para garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos, como já se tinha assistido com os incêndios devastadores, com o roubo de Tancos e com a queda da estrada em Borba.

É evidente que em qualquer parte do mundo, em qualquer Estado e com qualquer governo é, e será sempre, possível que ocorram catástrofes e se percam vidas e bens e sempre se poderá dizer que nem tudo foi feito, que o planeamento era deficiente, que as diversas forças a quem incumbem responsabilidades na matéria falharam, que houve descoordenação e por aí fora.

Naturalmente, uma coisa é a vox populi, outra o apuramento isento da verdade e a punição de quem por ação ou omissão teve responsabilidades em situações de onde decorreram mortes ou perdas de bens. Nenhuma das situações referenciadas teve ainda conclusões e não é necessário ser pessimista para acreditar que dificilmente virão a ter, à semelhança do apagão de há alguns anos que mergulhou uma parte do país na escuridão e na inatividade e em que a responsabilidade acabou por ser imputada a uma cegonha.

Em matéria de irresponsabilidade do Estado há dois exemplos banais com os quais todos os dias convivemos, os acidentes rodoviários e os assassinatos passionais de mulheres. Num e noutro caso, apesar de tudo mais no segundo do que no primeiro, as polícias e os tribunais são altamente responsáveis, pois muitos casos podiam ser evitados se houvesse mais diligência e pró atividade de quem tem de nos proteger e fazer cumprir a lei.

Infelizmente, encolhemos os ombros, a Justiça segue o seu curso lento, as polícias vão prendendo, mas outros agressores ficam à solta, as mulheres continuam a morrer e a comunicação social a noticiar. Na estrada idem. Só quando há algo fora desta rotina o país acorda e boceja. Depois volta à letargia habitual.

(Artigo publicado na edição de 27 de dezembro de 2018)