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Tempo incerto: 180.000 euros + IVA

José Vitorino Guerra

Um cidadão menos atento à actividade política poderia ser levado a pensar que a anunciada candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura não passava de algo para consumo interno e animação das hostes e da imprensa, dada a falta de uma estratégia visível para concretizar o objectivo e as carências de que a cidade é portadora.

redacao@regiaodeleiria.pt

Um cidadão menos atento à actividade política poderia ser levado a pensar que a anunciada candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura não passava de algo para consumo interno e animação das hostes e da imprensa, dada a falta de uma estratégia visível para concretizar o objectivo e as carências de que a cidade é portadora.

A anunciada adesão do dirigente distrital do PSD, Rui Rocha, ao grupo de trabalho de apoio à candidatura de Coimbra a Capital da Cultura, despoletou uma inusitada crispação política que terá pesado na decisão que o levou a renunciar ao convite e a atalhar a construção de um qualquer pretexto político perante as fragilidades ou o fracasso de Leiria.

A CML e o PS de Leiria ficam, assim, perante as responsabilidades públicas contraídas e a metodologia que tem vindo a ser seguida, até agora, aparentemente, demasiado isolacionista e paroquial, para responder com sucesso aos desafios colocados pelas exigências da candidatura.

Situação que deve ter pesado na decisão da CML abrir um concurso limitado com os seguintes objectivos: “construir e consolidar a programação cultural a curto, médio e longo prazo do concelho; promover a mediação com agentes culturais da cidade e da região; trabalhar o conceito de identidade cultural de Leiria; promover e potenciar a criação de co-produções; incrementar a notoriedade da cultura do concelho a nível nacional e internacional; preparar a candidatura formal de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027”. Isto pelo preço base de 180.000 euros, acrescido de IVA, durante 36 meses.

O hipotético vencedor do concurso, entre outros requisitos específicos e quantificados, deve conhecer a cultura da região e ter “um mínimo de dez parcerias pontuais, em co-organizações, com entidades locais” e “um mínimo de cinco parcerias de médio/longo prazo, com entidades locais”, além de já ter recebido um prémio artístico, “com relevância para o âmbito a concurso”. É natural a curiosidade para saber quem vai ganhar! E o vencedor fica com tão amplas atribuições políticas e culturais que se torna redundante a acção do pelouro da cultura e mesmo do “grupo de missão” designado pela CML para a promoção de Leiria no contexto da candidatura. Tudo atesta, ainda, o estado em que a coisa tem andado.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(Artigo publicado na edição de 14 de junho de 2018)