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Tempo incerto: Mudar de Rumo

Consolidadas as fronteiras, Portugal lançou-se na descoberta do mundo e na construção do império.

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José Vitorino Guerra

Consolidadas as fronteiras, Portugal lançou-se na descoberta do mundo e na construção do império.

A Monarquia, a 1ª República e o Estado Novo sempre consideraram o império um objectivo estratégico comum. A fim da sua salvaguarda, firmámos tratados ruinosos, sofremos invasões, perdemos soberania e entrámos na 1ª Guerra Mundial.

A defesa do desígnio ultramarino contribuiu para a queda da monarquia constitucional, na sequência do Ultimatum inglês de 1890, e o 5 de Outubro de 1910. O Estado Novo estruturou a sua razão de ser num pilar colonial. Salazar e Marcelo foram incapazes de aceitar a mudança dos tempos e mantiveram uma longa guerra sem saída em África, que acabou por provocar o derrube da Ditadura.

Após o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, a Europa parecia ser, para uma sociedade pobre e órfã do sonho, um novo oceano de riquezas e maravilhas a descobrir. A adesão à CEE representava uma promessa de estabilidade e de progresso económico, bem como um chapéu-de-chuva político para a jovem democracia.

A CEE fora criada para exorcizar os fantasmas do nacionalismo e da guerra na Europa e conter a Alemanha, na altura dividida. A desagregação da URSS e a unificação alemã vieram alterar a relação de forças e o quadro geopolítico europeu.

Rendemo-nos aos fundos comunitários como antes nos tinhamos perdido pelas riquezas da Índia. Anestesiados, os nossos governantes nunca quiseram referendar os tratados europeus ou a entrada no euro.

Abandonámos o mar e a salvaguarda dos interesses nacionais permanentes, à medida que as lideranças partidárias eram, de forma crescente, medíocres e o Estado se deixava capturar pelo clientelismo e essa coisa difusa, inatacável e insaciável que dá pelo nome de “interesses.”

Hoje, Portugal não pode voltar a ser o que foi, mas também não irá ser a periferia miserável de mão estendida a um qualquer rendimento social de inserção que alguns desejam. O programa da Troika e a política actual da UE não representam o fim da linha. Temos capacidade para construir um novo projecto político que nos permita superar a crise, reconquistar a soberania e projectar o futuro devido a um velho Estado-Nação alicerçado na História, com ou sem o euro.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 28 de novembro de 2013)