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Passageiro do tempo: Um país sem gente

Jose-manuel-silva
José Manuel Silva jmsilva.leiria@gmail.com

Acabamos de comemorar o Natal, uma festa essencialmente da família, onde o centro das atenções são as crianças, se celebra o início de uma nova vida que traz a renovação dos tempos e se sublinha o simbolismo de que se reveste um nascimento, facto que é transversal a todas as culturas e civilizações e que tem acompanhado a evolução das sociedades humanas em todas as geografias.

Mas existe hoje um fenómeno novo que está a mudar as relações sociais e ameaça produzir consequências irreparáveis nalgumas sociedades, a diminuição drástica dos nascimentos, com a taxa de natalidade a atingir patamares insuficientes para assegurar a reposição das gerações.

Pela primeira vez na história, a melhoria das condições de vida está a fazer diminuir a população e a pôr em causa equilíbrios familiares, sociais e políticos. Portugal ocupa um dos primeiros lugares neste ranking do desespero e, pelo menos aparentemente, caminhamos para o abismo sem que estejamos a fazer verdadeiramente algo importante para o evitar.

No meio da crise em que mergulhámos e das preocupações legítimas com a sobrevivência, parece não se ter consciência de que o principal problema do país não é equilibrar o défice das contas públicas, dinamizar a economia ou pagar aos credores, o maior problema com que o país está confrontado é inverter a espiral de decréscimo da natalidade sob pena de nos transformarmos num país sem gente.

É sabido que as pessoas são o sangue que alimenta as comunidades, as regiões, os países. Onde não há gente, não há desenvolvimento, não há vida económica, não há futuro. É ver o que já ocorre hoje nalgumas regiões do país, onde a tristeza de ver o recuo civilizacional só é superada pela preocupação relativa a um futuro sem esperança, de onde todos as pessoas fogem, todos os serviços desaparecem, toda a atividade económica estiola. É o retrato anunciado do Portugal do futuro se nada for feito para inverter esta tendência assassina.

É urgente que o país se mobilize, que todos os portugueses conscientes de que o futuro está em causa se empenhem numa ação urgente que conduza à adoção de medidas ativas de apoio à natalidade, e de suporte à educação das crianças e jovens. Esta questão não pode ser encarada apenas como pessoal, trata-se de um gravíssimo problema social e político que requer medidas de exceção e para cuja resolução todos se devem sentir convocados.

(texto publicado na edição de 2 de janeiro de 2014)