Assinar

O meu diário: Regresso às aulas

Este ano, o regresso às aulas leva-me o meu último filho para longe de casa, pelo que vou sofrer da síndrome do ninho vazio.

Helena Vasconcelos, médicahml.vasconcelos@gmail.com
Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com

Esta frase, mais do que aos miúdos em idade escolar, dá-me urticária. Se me querem ver irritada é berrarem-me ao ouvido com uma frase destas. Trauma de infância talvez! Fico incomodada quando em pleno Agosto nos hipermercados juntam as boias, bolas e as malas térmicas com os cadernos, os livros e canetas. Tenho aquela sensação de decadência, de tudo irremediavelmente perdido, apanhada pela teia do sistema.

Esta frase transporta-nos para o fim do Verão, das férias, do prazer da natureza e da liberdade sem horários ou obrigações. O regresso às aulas lembra frio, horários, rotinas, chatices. Como mãe, em algumas fases, respirei de alivio porque se resolvia o problema de quem fica com as crianças, do deitar tarde , da anarquia reinante do Verão. Quando voltavam às aulas tudo se alinhava desde a roupa, à hora de deitar, de comer e de tomar banho. O acampamento de ciganos do verão dava lugar a uma casa britânica cheia de meninos educados. Até nós, os pais, parecíamos mais aprumadinhos cheios de regras e exigências. O cérebro alinhava pelo outro eixo solar e revogávamos as autorizações prévias do período estival.

Este ano, o regresso às aulas leva-me o meu último filho para longe de casa, pelo que vou sofrer da síndrome do ninho vazio, o que quer que isso seja. Preparem-se para ataques de mau feitio e coisas tenebrosas. Está tudo explicado nos livros, e como é um síndrome presumo que seja doença. Por muito que achasse irritante os atrasos matinais, o esquecimento de materiais escolares que nos faziam voltar atrás, as respostas tortas de adolescente, de tudo vou ter saudades. A vida é isso mesmo: ciclos que se fecham e outros que se abrem. Claro que ao não saber o que nos espera pela frente, ficamos pasmados a olhar para trás Fica aqui um conselho de amiga: quando de manhã vão levar os vossos filhos à escola não berrem muito, aproveitem.

(texto publicado na edição de 4 de setembro de 2014)