É usual ouvirem-se lamentos de membros da oposição face à imprensa local, queixando-se, num misto de amargura e frustração, de que esta não divulga as suas mensagens políticas. No fundamental, segundo dizem, as suas tomadas de posição não chegam ao cidadão, pela simples razão de que os jornais e os jornalistas gravitam na influência do poder e, portanto, limitam-se a reproduzir a visão de quem manda, quando não possuem uma estratégia favorável à sua promoção.
Reconheça-se que este tipo de afirmações sempre se ouviu em relação à imprensa local, qualquer que fosse o detentor do poder político autárquico.
São conhecidas as limitações da imprensa e os condicionalismos em que se movem os jornalistas, sobretudo, dada a influência excessiva do poder sobre a vida da comunidade, quando detentora de uma frágil consciência colectiva. De facto, demasiadas vezes, uma imprensa em luta pela sobrevivência e de curta memória tem tendência para não confrontar os detentores do poder com as consequências das suas decisões políticas ou omissões, manifestando dificuldades em resistir à mera tentação de reproduzir notas informativas emanadas dos gabinetes de imprensa, geralmente ocupados por antigos colegas de profissão.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Hoje, o poder é o grande centro de produção de informação, sobretudo quando opta por uma política de entretenimento centrada em eventos que a imprensa não pode deixar de noticiar e de destacar, sob pena de ser vista como parcial ou hostil.
Todavia, alguns dos que se ouvem queixar são pouco dados a olharem para o que fazem e para os erros que cometem e parecem desejar que a imprensa diga o que eles querem, mas não expressam a intenção de divulgar nem de assumir. Os jornais não têm de preencher os vazios da oposição.
Não se compreende que a oposição não produza uma mensagem clarificadora, não realize debates públicos ou não utilize as plataformas digitais para veicular as suas posições e as suas críticas aos actos do poder, bem como para apresentar as alternativas à política que vai sendo feita.
A oposição precisa de se libertar do síndrome do cerco e tem de se dar ao trabalho de vir dizer ao que vem e o que pretende fazer enquanto alternativa. Até lá, apenas se pode queixar de si própria e da sua ineficácia.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(Artigo publicado na edição de 27 de setembro de 2018)
Anónimo disse:
4.5