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O meu diário: Eleições

Às vezes adoro este povo e outras vezes tenho vergonha dele. A minha única esperança são os professores. Ponham as crianças a brincar aos votos.

hml.vasconcelos@gmail.com

A relação da atualidade com as eleições só me faz lembrar aqueles meninos que nasceram em berço de ouro e que herdaram tudo dos paizinhos, que em vez de fazer prosperar os negócios derretem o dinheiro num instante. Não valorizam carro, casa e férias porque foram criados nessas mordomias. Nada é valorizado porque nada foi conquistado. Tudo foi servido de bandeja. Assim está este povo com as eleições e o voto.

Como é possível esta abstenção toda, como é possível não existir qualquer interesse por este direito? Por mais que se publiquem nas redes sociais, se exponham nos documentários televisivos, exemplos de gente que deu a vida por este direito tudo cai em saco roto. Sim, sim, também houve gente que deu a vida por Portugal, pelas conquistas aos mouros e pela reconquista da soberania expulsando Castela e mesmo existindo feriados, não sabemos bem o que se comemora. Se o voto desse direito a um dia de férias, iam ver se não estavam as urnas a abarrotar ou se no fim dessem um cupão com desconto de 30 cêntimos na gasolina iam ver as filas que se faziam.

E se por cada 5 votos houvesse um ano de reforma mais cedo? Ui, isso é que era! E isenção de IMI ou mesmo IMT. Um ingresso num parque radical para os mais novos ou três aulas de surf ou bodyboard à escolha. Ou um cupão para um spa, ou uma peça de um serviço da Vista Alegre ou um talher da Cutipol! Quando chegássemos a velhos estavam os serviços feitos e o dever cumprido. Mas a malta não pensa que apesar de não concordar com o sistema a única forma de o influenciar é ir votar? Às vezes adoro este povo e outras vezes tenho vergonha dele. A minha única esperança são os professores. Ponham as crianças a brincar aos votos desde o infantário pode ser que se habituem. Façam a coisa no Inverno e também no Verão para ver se o tempo não é impedimento. Por favor não lixem a democracia. Por vezes penso que os ditadores têm razão, o povo está mesmo a pedi-las.

(Artigo publicado na edição de 30 de maio de 2019)