Pode uma organização que quer educar para o futuro, usar metodologias e profissionais do passado? Não pode. A organização e os métodos da escola atual são do passado e a esmagadora maioria dos professores são migrantes digitais e muitos continuam a ser iletrados digitais. Muitas escolas funcionam em total ignorância do que são as regras básicas de comunicação de uma sociedade digital e basta enviar um e-mail a um diretor ou a um professor de boa parte das escolas para perceber a distância que separa a comunicação instantânea que a sociedade promove, e sem a qual já não se pode viver, do tempo que alguns julgam ser o do espaço pedagógico onde se arrastam.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Ainda não há muito tempo, numa ação de avaliação de uma escola, um professor me afirmou que não autorizava que os pais dos alunos, que lhe pagam o salário, tivessem acesso aos seus contactos e se lhe pudessem dirigir diretamente. Esclarecedor.
Recentemente, um estudo promovido pela União Europeia comprovou prospectivamente que a maioria (63%) das crianças que hoje frequentam os jardins-de-infância vão exercer profissões que ainda não existem. E o que estamos a fazer para as educar para o mundo que as espera? O mesmo que fazíamos há muitos anos atrás, quando não havia computadores, telemóveis, WhatApp, Facebook, Instagram e toda a miríade de soluções tecnológicas que mudaram o mundo, nos mudam a nós e estão a mudar as crianças que hoje entram nas escolas e reclamam outra escola, outras metodologias, outros currículos e professores preparados para lidar com tudo isso.
Para a geração dos nativos digitais, multitask e que consultam o telemóvel de 10 em 10 segundos é credível escolarizá-los num modelo que tem dois séculos? Impossível, e é aqui que nasce o equívoco da escola que temos e o paradoxo de querermos construir o futuro com uma escola do passado. Morte à escola, viva a escola.
(Artigo publicado na edição de 19 de abril de 2018)