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Passageiro do tempo: O paradoxo escolar

Muitas escolas funcionam em total ignorância do que são as regras básicas de comunicação de uma sociedade digital.

jmsilva.leiria@gmail.com

Pode uma organização que quer educar para o futuro, usar metodologias e profissionais do passado? Não pode. A organização e os métodos da escola atual são do passado e a esmagadora maioria dos professores são migrantes digitais e muitos continuam a ser iletrados digitais. Muitas escolas funcionam em total ignorância do que são as regras básicas de comunicação de uma sociedade digital e basta enviar um e-mail a um diretor ou a um professor de boa parte das escolas para perceber a distância que separa a comunicação instantânea que a sociedade promove, e sem a qual já não se pode viver, do tempo que alguns julgam ser o do espaço pedagógico onde se arrastam.

Ainda não há muito tempo, numa ação de avaliação de uma escola, um professor me afirmou que não autorizava que os pais dos alunos, que lhe pagam o salário, tivessem acesso aos seus contactos e se lhe pudessem dirigir diretamente. Esclarecedor.

Recentemente, um estudo promovido pela União Europeia comprovou prospectivamente que a maioria (63%) das crianças que hoje frequentam os jardins-de-infância vão exercer profissões que ainda não existem. E o que estamos a fazer para as educar para o mundo que as espera? O mesmo que fazíamos há muitos anos atrás, quando não havia computadores, telemóveis, WhatApp, Facebook, Instagram e toda a miríade de soluções tecnológicas que mudaram o mundo, nos mudam a nós e estão a mudar as crianças que hoje entram nas escolas e reclamam outra escola, outras metodologias, outros currículos e professores preparados para lidar com tudo isso.

Para a geração dos nativos digitais, multitask e que consultam o telemóvel de 10 em 10 segundos é credível escolarizá-los num modelo que tem dois séculos? Impossível, e é aqui que nasce o equívoco da escola que temos e o paradoxo de querermos construir o futuro com uma escola do passado. Morte à escola, viva a escola.

(Artigo publicado na edição de 19 de abril de 2018)