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Castelhanos regressam a São Jorge para estudar segredos da batalha de Aljubarrota

Quase sete séculos depois da Batalha de Aljubarrota, os castelhanos estão de regresso ao campo de batalha. Desta feita, chegam armados de curiosidade e conhecimento científico para ajudar a desvendar os segredos que ainda permanecem por descobrir no terreno de batalha. A missão é, portanto, pacífica.

Equipa internacional estuda zona nascente do Campo Militar de São Jorge (clique nas setas laterais para mais fotos) 

Quase sete séculos depois da Batalha de Aljubarrota, os castelhanos estão de regresso ao campo de batalha. Desta feita, chegam armados de curiosidade e conhecimento científico para ajudar a desvendar os segredos que ainda permanecem por descobrir no terreno de batalha. A missão é, portanto, pacífica.

A presença de investigadores espanhóis está integrada num projeto que conta ainda com elementos da comunidade científica portuguesa e inglesa. Nos tempos em que a independência lusa se jogou em São Jorge, castelhanos, portugueses e ingleses defrontavam-se em planos opostos no campo de batalha.

Hoje em dia, contudo, partilham um objetivo comum: ajudar no aperfeiçoamento do conhecimento científico sobre campos de batalha. Mas não será estranha a presença de castelhanos a estudar um campo de batalha onde perderam? “Também morreram muitos portugueses em Montiel”, responde bem-humorado David Gallego, arqueólogo e consultor da Fundação Castillo de la Estrella (FCE), referindo-se à batalha de Montiel (1369), historicamente ligada à Batalha de Aljubarrota, e que é um dos pontos de interesse da fundação.

“Um historiador não pode olhar para há 600 ou 700 anos com essas ideias”, completa. O importante, reforça, é “a componente científica” e que “possamos trabalhar com experiências distintas para fazer avançar trabalhos comuns”. “Temos uma problemática comum na investigação, pois também temos um campo de batalha, de Montiel, e que está ligado historicamente a este e o estudo dos campos de batalha, a nível europeu, está a ter uma ampla progressão”, reforça David Gallego.

Foi em Montiel que Henrique II assegurou o trono de Castela e inaugurou uma dinastia. O seu filho, D. João I de Castela, perdeu na batalha de Aljubarrota a possibilidade de alimentar ambições ao trono luso. A parceria deverá continuar com o intercâmbio de estudantes universitários lusos e castelhanos no estudo deste par de campos de batalha, acrescenta este arqueólogo da Universidade de Castilla-La-Mancha.

Maria Antónia Amaral, arqueóloga da Direção Geral do Património Cultural, revela que este projeto se prolonga por três anos e resulta de uma candidatura ao programa Valorizar. Na zona nascente do campo de São Jorge, a equipa trabalha no terreno onde até há pouco tempo existiam diversas habitações, entretanto demolidas.

Numa área virgem em termos de pesquisa arqueológica, “é importante perceber como foram construídas [as habitações] e se afetaram o terreno”, refere. A equipa procura ainda “novos achados para complementar o que já conhecemos do campo, que ainda é pouco”. No limite, admite, esta equipa internacional pode encontrar vestígios “que nos levem a uma reinterpretação do que se passou” na batalha de Aljubarrota.

Ainda no âmbito deste projeto, a equipa pretende igualmente pesquisar a ala poente do campo. Numa batalha em que a morfologia do terreno desempenhou um papel relevante, condicionando o posicionamento dos exércitos, a equipa conta igualmente com dados sobre a interpretação da paisagem que existiria na altura do embate luso-castelhano.

João Mareco, diretor do Centro de Interpretação Batalha de Aljubarrota, sublinha a importância da colaboração entre a Fundação Batalha de Aljubarrota e a sua congénere espanhola (a FCE), lembrando ainda que o Campo de São Jorge continua a suscitar a curiosidade da comunidade científica portuguesa, mas também internacional. Além do mais, o novo conhecimento científico contribuiu para a “criação de produto histórico e turístico”.

Carlos S. Almeida
Jornalista
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt

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